os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

sábado, 11 de dezembro de 2010

Das palavras:
quanto mais as meço
mais nelas
tropeço.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

quero despender pouco do meu tempo aqui
e perceber se a eternidade que vejo ali
se estende caminhando por si
e põe em definitivo um pingo no i

quero me reconciliar com a vida
reconciliando brincando de ida
sem volta, por mais que esteja perdida
a incessante busca pela toada adormecida

em meu peito que canta e arde
e que sem cantar inventa um alarde
caminho orgulhoso, não covarde
reinvento a vereda serena pela tarde

carrego indelével beleza
que algures abate a certeza
de que amor se ama com clareza;
só tenho olhos para tua delicadeza

e se nada mais posso ver
não me importo em nada ter
quero tão somente reter
a chama que em mim inventas sem saber

nunca a vida é tardia
pois sei que teu corpo pelo meu ardia
num momento que simplesmente refletia
debalde energia que sempre renascia

sábado, 27 de novembro de 2010

O adultério - Gonçalo M. Tavares

A mulher hesita entre o adultério e uma conversa.
Percebo: na mesa fala baixo e sorri muito
para um homem que não é o seu marido.
Mas ainda há tempo. Por enquanto nada foi feito.
Os pensamentos, felizmente, são reversíveis.
A mulher ao sair do café
poderá ser atropelada: um embate violento, vamos supor.
Poderá, então, quem sabe, permanecer seis meses no hospital,
com o marido ao lado, e revistas;
todos os dias no horário permitido.
E, se tal acontecer, esta mulher não será adúltera.
             O homem que não é seu marido tem um fato escuro,
uma gravata cinzenta atravessada por uma subtil linha branca.
Está contente consigo próprio, é evidente, e com a gravata.
Vejo-os sair do café. Despedem-se. Faço uma pausa,
suspendo meus projectos, e observo-a a
atravessar a rua para o outro lado.
Um carro passa a grande velocidade,
mas ela já se encontra no passeio, protegida.
Do outro lado diz adeus ao homem de fato escuro,
sorri muito, abana a mão com um movimento excitado.
Ela desaparece por um lado, ele pelo outro.
Encontrar-se-ão de novo: isso é certo. Num outro dia.
Num sítio menos óbvio.
     De regresso a mim penso no que é o destino,
e no que é o tempo,
e sei, tenho uma certeza clara: aquela mulher vai sofrer.  

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ando meio fatigado de sedes afetivas inúteis e procuras insaciáveis

terça-feira, 23 de novembro de 2010

o sentimento é findo


o que não é findo
é o infinito.

poesia é dia-a-dia, sempre.

rego meu regato como um cisne brilha na sua cor.

de-rosa.

e penso que deveria amar muito mais do que posso.

domingo, 21 de novembro de 2010

Amor mais que imperfeito - Thiago de Mello

"Não do amor. De mim duvido.
Do jeito mais que imperfeito
que ainda tenho de amar.

Com freqüência reconheço
a minha mão escondida
dentro da mão que recebe
a rosa de amor que dou.
Me espiando o próprio olhar,
escondido atrás estou
dos olhos com que me vês.

Comigo mesmo reparto
o que pretende ser dádiva,
mas de mim não se desprende.

Por mais que me prolongue
no ser que me reparte,
de repente me sinto
dono da alegria
que estremece a pele
e faz nascer luas
no corpo que abraço.

Não do amor. De mim duvido
quando no centro mais claro
da ternura que te invento
engasto um gosto de preço.
Mesmo sabendo que o prêmio
do amor é apenas amar."

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Thiago de Mello nosso de cada dia nos dai hoje tempo

"Tempo, te dou memória de ti mesmo
pela mão do meu ser. Eu te dou tempo,
esta a tua verdade, eu que te invento
e te permito doer - e tu me mordes
e degradas o sol das minhas pálpebras
e me instigas feiuras escondidas
e esgarças a espessura do meu sono,
mas me vingo de ti, e quase te amo
porque nunca me gastas a esperança."

domingo, 14 de novembro de 2010

"O barqueiro é o que nasce.
Que nascer jamais será chegar, pois todos chegam,
barqueiros como barcos, simultâneos.
Nascer é desvelar-se. É ter-se e dar-se.
É ser-se dono e servo, inteiramente.
Nascer é renascer, por vias úmidas."

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

depois da larica italiana

percebo como massa é animal.

bagatela de farinha às 4 da matina.

saúde sem dúvida.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Resposta para estrela cadente

Uma estrela cadente passa e faz-me cantar.
Cantar a escuridão de um céu finito.
Para ela não tenho nenhum pedido,
Só estou de leve agradecido
por fazer meu um sorriso mais bonito.

sábado, 6 de novembro de 2010

entrei na internet
pra pesquisar o mundo
ver o rio nilo
lá no fundo
enquanto destilo
um gesto moribundo
no maior estilo
vagabundo

chego em casa às seis da matina;
na minha toada tamborilo
e cada vez mais confundo
aquilo que sem querer desfilo
com todo o resto que afundo

intranquilo redundo:
percebo meu computador regendo minha manhã.
O gato fitou o infinito
com seus olhos sepulcrais

O menino fitou o gato
e no instante
percebeu

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

-e aí, fez boa viagem?
perguntou o irmão ao outro.
-não sei, não sei se retornei ainda.
olham-se.
riem-se.
-uma viagem termina, outra começa.
-não há retorno, há caminhar para onde o nariz aponta.
e seguiram, cavando um buraco na areia da praia.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

cada um tem o que merece

é preciso merecer muito
para poder ter nada?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

o sussuro de um cabelo
quando dança colado a seu rosto
é como um sopro de vida
que diz:
há para quê existir,
paixões estão na vida,
há que aproveitá-las.
http://www.youtube.com/watch?v=dvmQeggmD48

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

contradição não é imprimir enquanto imagem aos olhos alheios o que não passa em seu peito.
contradição é imprimir em seu próprio corpo, no qual não basta, nem no coração, mais que a unidade, atos que não correspondem ao que passa no peito, no desespero da salvação da psique.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

segundo poema mineiro - a manhã há de nascer

traga meu peito
- e ele é fraco -
as lástimas que derramam quando
caminho sem saber por onde
os que trago comigo despudoradamente
peitos que me acompanham
-e sem eles nada sou-
e me fazem alegrias só
alegrias

toda a tristeza vem de saber
que eu não sou capaz de
sempre, sem nenhuma exceção,
fazê-los, como a água faz a planta sedenta,
sempre mais
e interessados com as presenças e o mundo
que, atordoador, não perdoa nem uma lágrima

quanto mais a infelicidade que a ele distribuo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quando o sol de manhãzinha ou tardezinha lança uma luz muito mais do que conveniente em qualquer situação, penso que

gosto de acreditar num
deus-diretor de belos filmes.

domingo, 24 de outubro de 2010

primeiro poema mineiro

hoje eu descobri
que nunca
a esperança
é a última que morre:

estas são sempre
as falsas-esperanças.

sábado, 23 de outubro de 2010

osmose


na ânsia de amar o corpo adoece
porque qualquer possibilidade
de aceitar a imperfeição
desconhece

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

defeito é o nome
que algum deus estreito
deu para um ser
que cambaio
na verdade
foi perfeito

vulgo

eu

ou

tu

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

tomei a liberdade de excluir alguns comentários do blog, me desculpem.

Vida verdadeira - Thiago de Mello

Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor

Ainda que o gesto me doa,

não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.

Vem da terra dos barrancos
o jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.

A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.

Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.

Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centro da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.

Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.
Por isso avanço cantando

Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.

O que passou não conta ?, indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu mel.

Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.

Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.

Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.

Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.

Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.

Há que merecê-la

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Caralho

estou bêbado

e queria escrever um poema.

Porém meu cansaço me faz dizer somente

que na verdade


queria dormir com a Pema.

Animal Pema e poema rimarem,

assim como a pena e o problema.

ou o amor e a dor,

para usar uma retórica mais catedrática.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Depoimento do poeta meditante

Concordo.
Mas apesar de consentir,
não calo.

Ausência de certezas,
Ausência de portos-seguros,
sim.
Nada de novo no front.

Agora,
na ausência de palavras noite adentro,
de deslumbramento,
na ausência de virtude,
e de vinho,
meu amigo...
És presunçoso
por achar que estás
sozinho.

Quanto à ausência de Sidarta e de Pema,
te digo:
levo-os sempre comigo.
Ainda que doente,
meu peito os leva contente
e em segredo,
sem nenhum traço de medo
ou sigilo
[com relação à eles meu peito está tranquilo.

Porém, quando leio
que falta lida com a escuridão da vida,
meu peito se estremece:
tome cuidado com a palavra
que tece,
pois és sabido o bastante
pra saber que não é verdade.

Meu silêncio
nunca foi tanto
este embate no escuro
quanto agora.
E por isso,
pra humanidade eu digo:
Xóra.

Nunca quis ser reflexo de nada
além de mim mesmo,
[quiçá dos que vão comigo.
Por isso caminho na caverna
de meu umbigo
para ver se acho um novo corpo,
ou novos corpos,
e jogo velhas peles fora.
Velhas bagagens,
velhas poeiras,
que meus cantos ainda sem poesia
calharam de acumular.

Me reservo no direito de
meditar.

Me frustro também,
não se assuste.
Mas até que algo
em mim finalmente
se desajuste,
silencio.

Acredite, quando digo
que podes confiar em teu amigo.
Traço, pois,
um diário
de viagem
[te mostrarei quando voltar.

Até lá,
segura a onda,
não perca o pé.
Que quando for a hora boa,
pegaremos um jacaré.

sábado, 9 de outubro de 2010

A serpente é a metáfora da revelação.

Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.

Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.

A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;

mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.

Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.
Tudo que se sente
se mente

cada ato da vida é regido
pelo corpo

satisfações
são
insatisfações

e os segundos;
minutos horas dias
em vias de.

porém
sinto algo que clama
e quero partir ao encontro
de uma dama
de espadas
de copas
de paus
ou de ouros

o que importa
é que seja

dama

dona

de minhas incertezas.

Coisas do mundo, minha nêga.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Depoimento de um poeta caminhante trôpego

Último dia de setembro

Nosso mês recorde de ausência de postagens

Não fico surpreso ao notar a ausência de tanto na minha vida

Ausência de certezas

Ausência de portos-seguros

Ausência de mim

Ausência de ela

Ausência de amizades

Ausência de palavras noite adentro

Ausência de deslumbramento

Ausência de virtude

Ausência de vinho

Ausência de Sidarta e de Pema:

O blog é quase reflexo da humanidade

Falta poesia na vida

E nós estamos atados

Como a lua está ao sol

Como tudo está à luz

Como a fome está ao estômago.

Falta lida com a escuridão na vida

Pois somente caminhando na caverna

Iremos encontrar um caminho dentro de um corpo

Em que não cabemos

Mas bastamos

E aceitamos.

Assim como falta poesia na vida

Assim como falta poesia em todas as instâncias

Falta poesia no Falsas Distâncias.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Poema para os MOMO_ALUNOS do Fran

____um dia nasci
23 anos vivi
agora em minha rede, em meu jardim,
terminei de ler momo e o senhor do tempo.____

Fiquei quase tonto
pois poucas vezes me senti com tanto tempo.

Tempo para perscrutar o ar
e tentar nele me enxergar;
Tempo para olhar para uma pedra
e ver que nela se encerra uma era;
Tempo para ver o broto do jasmim
e sentir a vida ressoando como um clarim;
Tempo para sentir a orquídea florescer
e ver o próprio tempo nascer.

Tempo bom de gastar livre e sem pena
ao lhes escrever este poema.

A cada passo que percorro
pergunto por onde estou andando
e percebo, passo-a-passo, que
sempre nasço, nunca morro.
E que independente do que se invente,
o caminho é sempre
dentro da gente.

Tanto a descobrir
Tanto a viver;
muito a lembrar
outro tanto a esquecer.

Sinto-me lendo este livro
com um amigo
e seus alunos.

Quem poderia me convencer,
com uma flor das horas no peito,
que não estamos lendo juntos?

Ninguém.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

hoje fui deitar e meu corpo não deixou

dores

dores

e mais dores

ai quem me dera

se ao menos essas dores

fossem de amores

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Terceira e derradeira

Acabando a champagne
que fiz questão de beber
e um outro fumo
que não questão fiz de mostrar,
mas acabei por fumar,
encontrei uma vontade
desejo de ser felicitado
pelas falsas distâncias.

Cada qual com sua vida,
baralho embaralhado,
confusão enferma de sentimentos que me escapam
conclusões de eternidades que me embaraçam.

E, além do cardume, me conforto com a idéia de que
a cada instante nossas distâncias, a ver,
se desenroscam e verdam-jeiam-se.

Vós sabem de mim um segredo.

Verdejo.

Pela poesia que nos abita,
nunca abandonemo essa flor que canta e come,
carnívora,
tudo que sabemos,
ou que com medo não sabemos,
mas reconhecemos.

Campo grande, São Paulo, Assis,
somos cá,cosmos,pedra e jasmim.

algo como um troço de merda,
Feliz.


Pedro Bruschi, no presente momento diz:


reconheço a queda.

Poréeeeeeeem.... não procurei esconder, de ninguém.

Meu coração é aberto como uma fruta cortada ao meio
pronto para ser sorvida.

Cada desencontro é uma possibilidade.
De encontro,

porqueeeee....

nada mais belo nesta vida
que encontros.

Outrora encontrei encontrei encontrei
e tu sabes se te encontrei verdadeiramente
ou não.

Nenhum testemunho há de ser mais perfeito que o teu sobre mim.
Eu prefiro silêncio, que as pessoas digam sobre mim, afinal,
ali onde eu chorei, qualquer um chorava.

Caminho por rizomas de minha mente e não minto.
no máximo, me engano.

E se queres que seja consizo, que minhas palavras tenham a certeza de um atleta...

fodeu.

Nunca fui bom nos esportes. (no melhor estive ultimamente na verborragia, saudades).

Se há uma possibilidade de poema estou lá, nu, com frio fome sede. Não há de me escapar o poema, nunca há de me escapar o poema.

Enquanto isso, sirvo meu copo de vinho e para mim é o mesmo que servir meu copo de vida.
Cada gole mil palavras, algumas saudades e infinitas possibilidades.

Se isso é bom só o futuro dirá.

mas, sinceramente, só me importa uma certeza:

o nosso Cardume é perfeitamente satisfatório.

A primeira do aniversário

Eu saí da minha terra por ter sina viageira, com dois meses de viagem eu vivi uma vida inteira... estrada foi boa meta, me deu lição verdadeira, e os pecados de domingo quem paga é segunda feira...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

THE POEM WICH I DO NOT WRITE

Me bateu certo quê
de Whittman,
lembrei dos ventos
de Cummings,
ouvi um canto
dos pássaros
de Valparaíso,

e vi as sombras
do Mupejo
numa Roda
que gira,
gira.

O silêncio.

Estou aqui nessa cantina,
anônimo.
Ninguém sabe quem sou
eu.

Teço
às margens de mim mesmo
um segredo
que nos revela.

Que nos degela.

Sinto a cera quente
que edifica minha alma,
e escrevo um poema
para que nunca mais
e eternamente
esteja assim:

Silêncio.

Uma carta resposta não enviada ao Jony (um dia leremos em voz alta)

Saio do banho quente
na noite fria

Já não sou mais homem
de sentir
de sofrer
e das dores do universo
fazer as minhas;
ou vice-e-versa.

Visto o verso
roupa quebrantada
letras na pele limpa
-parangolé de palavras-
e percebo:
Meu raciocínio é poético.

Abro uma cerveja.

Sorvo na noite fria
um corpo quente:
para falar de temperaturas
nada pior que um termômetro.

Aprendi de uma criança:
nada é em si
tudo é em quando:
-Calor é quando a gente põe a mão
(o olho, o dorso
o sexo, o corpo,
o colo, a palavra)
e esquenta.

FRIO?

A cada gole de cerveja
gelada
sinto a temperatura
interior
em conflito com a temperatura
exterior.

Sigo o fluxo sem muito pensar
em consistência
tragédia
ou crença,
talvez pensando durante o gesto;

poesia assenta
o pó
poesia varre
o pó
poesia junta todo
o pó
do mundo, e depois assopra
o pó
só pra recolher de novo.

Foi assim que sentei outro dia com um amigo.

Sinto-me escrevendo como um menino,
poderia até fazer versos de amor.
(Preferia um ouvido mudo
para sussurrá-los).

Outro gole de cerveja.

Hoje a noite me chamou e eu não a fui encontrar.
A fiz entrar em minha casa
e escolher meu caderno
para sua morada.

Digressão: eu sou um típico fantoche manipulador
(que raios é isso?)

Pois é, eu e a noite somos velhos conhecidos,
não vou eu a ela
e ela vem a mim,
assim é que é,
tipo a montanha e Maomé.
(que rima pobre!)

Acabo uma cerveja
e continuo, obstinado,
na inspiração.

Abro outra cerveja
e com ela, um poema:
"Minha sede repousa num maracujá grande e pesado na fruteira de casa.
Espero."

Grande e gordo
Sede
Vontade
Desejo
Ceder

Já percebo impulsos...
me contento em viver
e tratá-los com naturalidade

DESCUBRO

que para fazer poesia
não preciso, como outrora,
do pouco fazer muito.
Posso cheirar o mundo com olhos de jasmim
buscar no fundo do castelo perdido
um pedaço de jardim
ou me embriagar da sede
da fome
e do barulho insuportável
da construção em frente de casa
que não me deixaria,
se eu quisesse,
dormir.

Poesia nasce do gesto.

Queria olhar para o céu e ver uma constelação
mascá do pó só vejo o chão!

POESIA!!!

Traz-me um lava jato estelar
pra eu limpar toda a sujeira do mundo?

Verso anti-sintético,
sinto-me o canto de um bicho estranho,
nasço em tremolos gigantes

terremotos de percepções

enchentes de lágrimas

sussurros de desesperos
ou quem sabe de amantes.

Uma gota de sangue em meio à chuva
derrubou a mais alta sociedade científica
a mais baixa possibilidade
para uma lógica no mundo intrínseca:
meu verso contribui para tanto,
no entanto,

_pausa para um cerveja_

"não alcanço sequer a fímbria do saber que em vão persigo".

Minha disposição baixa
e o sono clama...
vou fechar a noite
com um versinho em chamas:

Vem,
te direi em segredo
onde leva
esta cama.

E viva o Al Pacino,
ele está no meio de nós.

Último gole de breja.

Sono.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poesia natureba é o cacete

Nem só de xilema
E floema
Se faz poema.

Sobre frivolidades

Tempo seco, não?
Pois é.
Seco tá meu coração.

É sério!
E todos os orifícios do meu corpo doem.
Dói prá assoar o nariz
Dói prá cagar
Prá respirar também dói.

Agora o coração
Apesar de muito bem escoltado pela minha couraça
Guardado e preservado como obra-de-arte em museu
E muito bem irrigado, diga-se de passagem
Padece mais que tudo.

Mais que o próprio padecer.

É que às vezes me bate que o homem tá muito perverso
E reclamar da umidade do cerrado me parece frívolo à beça.

sábado, 31 de julho de 2010

O Rompimento do Silêncio

QUEM SOU? EU?

Eis que me deparo
mais uma vez
de muitas vezes mais
com esta casa que me habita.

E minhas paredes são tortas,
meus alicerces são vesgos.
Por mais que caminhe reto,
meus caminhos nunca
são os mesmos.

Me canso de querer
saber por quês.

E quando me esqueço
que estou cansado,
começo a escrever.

Pois até o ar
me grita:
Escreva!
E eu, sem quando nem onde,
escrevo.

Antes disso,
antes daquilo,
antes de eu
e docê,

algo em mim
que so escreve
baila, celebra,
e sua celebração
é chute na canela,
é cheiro de alecrim,
é estalada de vara
em onça curta.

Sem tirar nem pôr,
tudo isso é minha casa.
Esta selva,
meu aconhchego,
minha escrita.

Quero mais é madrugada,
pois ela sabe a verdade
que eu tanto nego:
Jony,
Você não tem par neste mundo.
Você está sozinho.
assim deve ficar.
e assim deve escrever.

Escreve,
Jony,
pra que só eu possa ler.


*

POEMAS MATINAIS (DE MAIO)

13/05

o despertador ofende-me
profundamente:
arranca-me de um sonho
incalculavelmente belo
com a vizinha
incalculavelmente linda
incalculavelmente nua
incalculavelmente minha.

14/05

me coço, me estico,
dou grito.
o mundo se resume
em colchão e edredon quentinho,
prestes a sucumbir
ao despertadir que toca,
ao frio que
de repente invade a casa
e grita:
LEVANTA!

e no meu máximo
de raciocínio, rapidez
e coragem
respondo com um grunhido.



POEMAS DE JULHO

1º de Julho
"Malditas tarefas domésticas"

Estava lavando a louça
e pensei num poema.
Terminei de lavar alouça
e esqueci meu poema.

fico pensando
por onde ele anda
agora que o esqueci.

Não me arrependo
de tê-lo esquecido,
apenas me consumo
na curiosa saudade
do poema que eu não escrevi.

2 de Julho

"poema sem orgulho do dia anterior"

Tomo um gole
do meu chá frio de gengibre,
e constranjo-me:
Hoje já é 3 de julho,
e não escrevi nenhum poema
ontem.

a vida, pois,
tem dessa coisas.

10 de Julho

Porém,
não desisto.

Há que dar-se um jeito nisso.

Acordo de uma semana sem poesias,
me espreguiço nas palavras,
e escrevo:

apesar do silêncio,
apesar da apatia,
apesar dos tremores,
apesar dos amores,
apesar do sono,
apesarde tudo ser pouco,

eu posso ser muito.

*

Há que bater mais forte
o tambor de meu peito.

Primeiro com raiva,
depois com deleite.

Tornarei-me quem quer que eu seja.
O mundo que me aceite.

*


aos amigos viventes das falsas distâncias:
esta é uma postagem multifacetada.
encerram-se nela muitos poemas, muitos cacos, muitas aberturas...
e uma fechadura.

eis aqui meu término do que comecei lá embaixo.
sempre, com toda a sinceridade. talvez, inclusive, falando da dificuldade de existir ante o sono que o mundo ás vezes dá.

eis-nos aqui.


CENTÉSIMA MILHA

Meus olhos estão
pretos e fundos.
coçam como se
nunca tivessem
visto montanhas,
mares, ilhas.

Meus olhos doem
como se nunca
houvessem lido
poesia.

Cansado escrevo.
e sei da responsa
que é viver
este momento.

A caneta no papel
exprime e espreme
cada gota de anestesia
que minha vida me deu.

Hoje percorro
meu rumo
com meu coração
inteiro.

Na palavra
que se faz
mesmo que escondida
num caderno vermelho,
hoje sou um pouco
mais verdadeiro,
e me lembro de canções
que um dia cantei.

Hoje eu desafio o mundo
sem sair de minha casa.
Hoje eu sou um homem
mais sincero e mais justo
comigo.

Ainda que,
além dos olhos,
possa todo o corpo doer,
todo o corpo grita.

Hoje,
faço-nos poesia
de carne e osso.

Muito já caminhamos.
Muito ainda vamos
caminhar.
Mas de nada vale
uma centena de passos
sem poder cantar.

E por isso
tenho hoje a certeza
de uma centena de milhas
percorridas com poesia.

(termino este post com um misterioso adeus, pios já estou morrendo de sono.)
-o pior é que ainda falta coisa...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

quando paro para pensar
ideias v"em "a cabeça

e eu vou escreve-las no meu diario

quem sabe um dia
h'ao de encontra-las

domingo, 18 de julho de 2010

Parado na internet

Nessa oportunidade
de sopetão
parei em frente a uma rara internet
no meio desta cidade
tão cheia de subidas e descidas.

Ouro Preto, casa encantada,
vistas de igrejas que cruzaram mares
montanhas que meu gosto antigo não deixa de querer atingir o topo
e contemplar, tão somente.

Casa cheia de gente, música,
acontecimentos absolutamente pertos
das distâncias.

Caminho com uma metáfora no bolso
pedra lisa, dura, forte!
pedra cheia de vida,
metáfora dos segundos que passam dentro
de um corpo
que na medida do impossível
de alguma forma
se esconde.

Talvez de si mesmo.

E talvez as coisas sejam como no conto sonho de uma flauta.
Ou talvez não.

Enfim, saudades do blog!

Grandes saudações Pedruschianas, mineiras, cheias de vida e música.

A caminho de Diamantina!

A caminho dos Cristais!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

poema para uma fruta insossa

tive outrora certa aptidão ao manejo das plantas;
cuidar da natureza
parece que abrilhanta.

benquerença?
que! nada demais não..
pra mim mais quase
uma doença;
coisa dessas
que querendo ou não
a gente herda.

foi no meio tempo dessa ensinança
que lá, um dia, eu descobri:
até morango nasce em merda.

terça-feira, 8 de junho de 2010

POEMAS de maio dE PEdRUSCHI

1 de maio

Caralho,

trampar é mó responsa.

2 de maio

Domingo é sinônimo de acordar com o canto dos passarinhos

e não raramente

com uma companhia

para brincar de ser só corpo.

Por que todo dia não é domingo?

3 de maio

dia de confissões

Tinha esquecido dos poemas matutinos

mas hoje começo mesmo sendo 1 da manhã do dia vindouro.

Hoje descobri que o que mais me cansa em são Paulo

é o tempo despendido dentro do ônibus.

O calor derreteu minhas pálpebras

e dormi com uma poema entre as pernas

como se fosse um travesseiro

como uma coxa de fêmea

e percebi

que viver é bom.

Inevitavelmente bom.

4 de maio

Fica decretado em caráter afirmativo e irrevogável na sociedade di Bruschi que todos os despertadores serão destruídos e que quem for adepto ao uso deste aparato demoníaco será caçado mais ardentemente que ratos leprosos.

5 de maio

Por que a noite é tão mais amiga do meu corpo e poesia que o dia?

6 de maio

Um dia longo

a mim espreita.

Atualmente sou um homem moderno

fadado a viver

como em uma linha de produção.

O problema é que pendo

infinitamente mais

ao naturalismo

que à última geração.

Encho a cara de café

e me preparo para a batalha vindoura

contra mim

até que o sono venha e o dia acabe.

7 de maio

No ônibus

uma garota linda

(agora a mais linda entre as garotas)

se ofereceu para me ajudar

a passar meu violão pela catraca do buzão.

Eu aceitei

e por um momento

todas as catracas

do meu peito

estiveram livres.

8 de maio

tudo está consolidado

de forma tacanha

e mesquinha.

Porque justamente eu

seria de outra forma?

9 de maio

É preciso dar um jeito

não de me encontrar,

mas de encontrar onde eu caiba.

já me cansei de sentir-me preso numa lata

como atum desfiado.

10 de maio

Segunda-feira:

não escapo

de papéis sociais

que me atormentam;

Preciso achar tempo

para fazer minha vida

-sem estar

dominado por um destino.

11 de maio

Nasce criatura

em forma de verso

sem criador.

O espaço é responsável,

o corpo é o meio da tinta sair para o mundo

e encher as cabeças de infinidades.

Poeta sou eu ou a caneta?

12 de maio

Vazantes Enchentes

Baixas Cheias

Inconstante ocorre a vida

Obstante

Como marés

Entre ventos revoltos

Se agitam cabelos soltos

de infinitas cores.

Cheia Nova

Crescente decrescente

Acronológica ocorre a vida

contudo banhada do gosto

da perseverante lógica

das luas

Entre tramas e tranças

rizomas dançam

com mil faces.

Abolido o tempo e sem juízos

todos os olhos dizem:

nesta vida

além lua e mar

amar.

Há que aproveitá-la.

13 de maio

quinta-feira – 11:30 da manhã

Como é bom

chutar

com todas as forças

o pau da barraca

e acordar

tarde pra caralho.

14 de maio

O preço do início das sinceridades

é o fim das esperanças

15 de maio

Sábado passado

não escrevi

nenhum poema

Hoje

vou escrever dois

O primeiro nasce

agora

O segundo vem

depois.

16 de maio

Poema de domingo de virada cultural

Quando o que sucede no corpo

não corresponde

com o que se desejaria que sucedesse

desatam-se nós

e o peito afunda

engolindo o sujeito

no desespero

para dentro de si mesmo

E nesse instante que se desfaz

como um acidente foi-ver-já-sofreu

evidencia-se uma paixão.

Não.

Não há sentidos.

17 de maio

hoje um poema do jony em que tropecei esta tarde.

“a vida,

vôo de dragão vertiginoso.

indeléveis amigos, puras experiências,

chaves de libertação em cada ser que sorri

ante os abismos da vida”

18 de maio

Quero escrever algo cheio de ternura

para uma garota específica,

mas agora não consigo,

fica pra próxima.

19 de maio

Para acordar bem

me aconselharam a

dormir ereto

fazer um chá

tomar remédio.

Tem até aqueles que deixam a televisão ligada pela noite inteira

com medo de si mesmos.

Tem que tenha técnicas lapidadas,

um banho dégradé indo do quente para o gelado

ou uma certa quantidade de água

(com precisão milimétrica)

a se tomar antes de deitar.

Isso para não falar nos despertadores e seus milhões de toques e simuladores,

cada qual com uma finalidade específica.

Mas para mim isso tudo não passa

de conversa fiada

Todo mundo sabe

que acordar bem

se acorda

quando se dorme depois

de uma bela trepada.

20 de maio

Uma nova paixão

é

sempre

um revisitar a instabilidades

e banalidades.

Nunca é mais difícil um telefonema

que quando para chamar

uma garota linda

e cheia de incertezas.

21 de maio

POEMA PARA NINGUÉM

O céu nublado

dá distinção às coisas

Minha cabeça nublada

anula

as contemplações catastróficas

e tudo se descobre

como se não passasse de si;

sem elocubrações.

As cores menos brilhantes

porque a luz é opaca

inexplicavelmente

avivam-se.

As formas tomam contornos

definidos.

Os espaços

que nos separam

tornam-se

absolutamente palpáveis.

Embora as névoas sempre tivessem me remetido ao caos,

massa rude e cinzenta, indistinta,

hoje as vejo percebendo.

Tudo no SEU lugar.

E não há como evitar a tristeza de ver

dois corpos que outrora

eram um

separados

a cada instante que se arrola

desaprendendo a amar:

não chegando a ser dois

mas vindo a ser nenhum.

22 de maio

A serpente é a metáfora da revelação.

Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.

Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.

A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;

mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.

Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.

23 de maio

Hoje eu perguntei para minha irmã de 20 dias de vida

o que ela pensava no mundo dela

tão cheio de linguagem

mas tão distante das nossas linguagens!

E ela me olhou com um olhar

de autoridade e grande sapiência,

explodiu num bocejo que faria até um elefante cair no sono

e voltou ao seu quentinho de meu colo sem perturbações.

Tem gente que sabe aproveitar a vida...

24 de maio

O mês vai chegando ao fim

e junto com ele

esse poeta-personagem

que vesti.

Mesmo que indeterminado,

para tudo na vida há um prazo de validade.

25 de maio

Há aqueles que lançam pedras aos passarinhos não para agredi-los, mas para contemplar o seu vôo.

26 de maio

Minha caneta está chegando ao fim.

Sempre tive dúvidas se quem escreveria era eu ou ela.

Agora é a verdadeira hora da emancipação poética:

sem a caneta terei que escrever versos no dia-a-dia

com meus gestos.

---haverá um dia

em que tudo que eu diga

seja poesia---

Poesia ativa,

nada poderia me potencializar mais prazer.

27 de maio

Quem começa a escrever

já sabendo onde quer levar seu texto

exclui dele toda a potência

que

tanto o nada

quanto o todo

têm a despender.

28 de maio

Filas

Esperas inúteis

Trânsitos

as coisas que mais demoram

na vida

são as menos eternas.

29 de maio

Eu tenho pena daqueles que se orgulham de quase não dormir por tanto terem que fazer e inveja daqueles que por tanto terem que fazer dormem um sono agradável que dispensa comentários e citações.

30 de maio

Quando caí do alto de minha libertariedade

foi que descobri

que com a boca fechada

se diz muito mais.

31 de maio

último dia do mês

último poema do mês

é estranho poder escolher dizer

que tudo só começou

ou,

simplesmente,

que acabou.