sábado, 11 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
e perceber se a eternidade que vejo ali
se estende caminhando por si
e põe em definitivo um pingo no i
quero me reconciliar com a vida
reconciliando brincando de ida
sem volta, por mais que esteja perdida
a incessante busca pela toada adormecida
em meu peito que canta e arde
e que sem cantar inventa um alarde
caminho orgulhoso, não covarde
reinvento a vereda serena pela tarde
carrego indelével beleza
que algures abate a certeza
de que amor se ama com clareza;
só tenho olhos para tua delicadeza
e se nada mais posso ver
não me importo em nada ter
quero tão somente reter
a chama que em mim inventas sem saber
nunca a vida é tardia
pois sei que teu corpo pelo meu ardia
num momento que simplesmente refletia
debalde energia que sempre renascia
sábado, 27 de novembro de 2010
O adultério - Gonçalo M. Tavares
Percebo: na mesa fala baixo e sorri muito
para um homem que não é o seu marido.
Mas ainda há tempo. Por enquanto nada foi feito.
Os pensamentos, felizmente, são reversíveis.
A mulher ao sair do café
poderá ser atropelada: um embate violento, vamos supor.
Poderá, então, quem sabe, permanecer seis meses no hospital,
com o marido ao lado, e revistas;
todos os dias no horário permitido.
E, se tal acontecer, esta mulher não será adúltera.
O homem que não é seu marido tem um fato escuro,
uma gravata cinzenta atravessada por uma subtil linha branca.
Está contente consigo próprio, é evidente, e com a gravata.
Vejo-os sair do café. Despedem-se. Faço uma pausa,
suspendo meus projectos, e observo-a a
atravessar a rua para o outro lado.
Um carro passa a grande velocidade,
mas ela já se encontra no passeio, protegida.
Do outro lado diz adeus ao homem de fato escuro,
sorri muito, abana a mão com um movimento excitado.
Ela desaparece por um lado, ele pelo outro.
Encontrar-se-ão de novo: isso é certo. Num outro dia.
Num sítio menos óbvio.
De regresso a mim penso no que é o destino,
e no que é o tempo,
e sei, tenho uma certeza clara: aquela mulher vai sofrer.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Amor mais que imperfeito - Thiago de Mello
Do jeito mais que imperfeito
que ainda tenho de amar.
Com freqüência reconheço
a minha mão escondida
dentro da mão que recebe
a rosa de amor que dou.
Me espiando o próprio olhar,
escondido atrás estou
dos olhos com que me vês.
Comigo mesmo reparto
o que pretende ser dádiva,
mas de mim não se desprende.
Por mais que me prolongue
no ser que me reparte,
de repente me sinto
dono da alegria
que estremece a pele
e faz nascer luas
no corpo que abraço.
Não do amor. De mim duvido
quando no centro mais claro
da ternura que te invento
engasto um gosto de preço.
Mesmo sabendo que o prêmio
do amor é apenas amar."
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Thiago de Mello nosso de cada dia nos dai hoje tempo
pela mão do meu ser. Eu te dou tempo,
esta a tua verdade, eu que te invento
e te permito doer - e tu me mordes
e degradas o sol das minhas pálpebras
e me instigas feiuras escondidas
e esgarças a espessura do meu sono,
mas me vingo de ti, e quase te amo
porque nunca me gastas a esperança."
domingo, 14 de novembro de 2010
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
depois da larica italiana
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Resposta para estrela cadente
Cantar a escuridão de um céu finito.
Para ela não tenho nenhum pedido,
Só estou de leve agradecido
por fazer meu um sorriso mais bonito.
sábado, 6 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
segundo poema mineiro - a manhã há de nascer
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
primeiro poema mineiro
sábado, 23 de outubro de 2010
osmose
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Vida verdadeira - Thiago de Mello
Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor
Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.
Vem da terra dos barrancos
o jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.
A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.
Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.
Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centro da terra firme.
Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.
Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.
Por isso avanço cantando
Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.
O que passou não conta ?, indagarão
as bocas desprovidas.
Não deixa de valer nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu mel.
Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.
Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.
Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.
Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.
Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.
Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.
Há que merecê-la
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Depoimento do poeta meditante
Mas apesar de consentir,
não calo.
Ausência de certezas,
Ausência de portos-seguros,
sim.
Nada de novo no front.
Agora,
na ausência de palavras noite adentro,
de deslumbramento,
na ausência de virtude,
e de vinho,
meu amigo...
És presunçoso
por achar que estás
sozinho.
Quanto à ausência de Sidarta e de Pema,
te digo:
levo-os sempre comigo.
Ainda que doente,
meu peito os leva contente
e em segredo,
sem nenhum traço de medo
ou sigilo
[com relação à eles meu peito está tranquilo.
Porém, quando leio
que falta lida com a escuridão da vida,
meu peito se estremece:
tome cuidado com a palavra
que tece,
pois és sabido o bastante
pra saber que não é verdade.
Meu silêncio
nunca foi tanto
este embate no escuro
quanto agora.
E por isso,
pra humanidade eu digo:
Xóra.
Nunca quis ser reflexo de nada
além de mim mesmo,
[quiçá dos que vão comigo.
Por isso caminho na caverna
de meu umbigo
para ver se acho um novo corpo,
ou novos corpos,
e jogo velhas peles fora.
Velhas bagagens,
velhas poeiras,
que meus cantos ainda sem poesia
calharam de acumular.
Me reservo no direito de
meditar.
Me frustro também,
não se assuste.
Mas até que algo
em mim finalmente
se desajuste,
silencio.
Acredite, quando digo
que podes confiar em teu amigo.
Traço, pois,
um diário
de viagem
[te mostrarei quando voltar.
Até lá,
segura a onda,
não perca o pé.
Que quando for a hora boa,
pegaremos um jacaré.
sábado, 9 de outubro de 2010
Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.
Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.
A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;
mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.
Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Depoimento de um poeta caminhante trôpego
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Poema para os MOMO_ALUNOS do Fran
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Terceira e derradeira
A primeira do aniversário
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
THE POEM WICH I DO NOT WRITE
de Whittman,
lembrei dos ventos
de Cummings,
ouvi um canto
dos pássaros
de Valparaíso,
e vi as sombras
do Mupejo
numa Roda
que gira,
gira.
O silêncio.
Estou aqui nessa cantina,
anônimo.
Ninguém sabe quem sou
eu.
Teço
às margens de mim mesmo
um segredo
que nos revela.
Que nos degela.
Sinto a cera quente
que edifica minha alma,
e escrevo um poema
para que nunca mais
e eternamente
esteja assim:
Silêncio.
Uma carta resposta não enviada ao Jony (um dia leremos em voz alta)
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Sobre frivolidades
Pois é.
Seco tá meu coração.
É sério!
E todos os orifícios do meu corpo doem.
Dói prá assoar o nariz
Dói prá cagar
Prá respirar também dói.
Agora o coração
Apesar de muito bem escoltado pela minha couraça
Guardado e preservado como obra-de-arte em museu
E muito bem irrigado, diga-se de passagem
Padece mais que tudo.
Mais que o próprio padecer.
É que às vezes me bate que o homem tá muito perverso
E reclamar da umidade do cerrado me parece frívolo à beça.
sábado, 31 de julho de 2010
O Rompimento do Silêncio
Eis que me deparo
mais uma vez
de muitas vezes mais
com esta casa que me habita.
E minhas paredes são tortas,
meus alicerces são vesgos.
Por mais que caminhe reto,
meus caminhos nunca
são os mesmos.
Me canso de querer
saber por quês.
E quando me esqueço
que estou cansado,
começo a escrever.
Pois até o ar
me grita:
Escreva!
E eu, sem quando nem onde,
escrevo.
Antes disso,
antes daquilo,
antes de eu
e docê,
algo em mim
que so escreve
baila, celebra,
e sua celebração
é chute na canela,
é cheiro de alecrim,
é estalada de vara
em onça curta.
Sem tirar nem pôr,
tudo isso é minha casa.
Esta selva,
meu aconhchego,
minha escrita.
Quero mais é madrugada,
pois ela sabe a verdade
que eu tanto nego:
Jony,
Você não tem par neste mundo.
Você está sozinho.
assim deve ficar.
e assim deve escrever.
Escreve,
Jony,
pra que só eu possa ler.
*
POEMAS MATINAIS (DE MAIO)
13/05
o despertador ofende-me
profundamente:
arranca-me de um sonho
incalculavelmente belo
com a vizinha
incalculavelmente linda
incalculavelmente nua
incalculavelmente minha.
14/05
me coço, me estico,
dou grito.
o mundo se resume
em colchão e edredon quentinho,
prestes a sucumbir
ao despertadir que toca,
ao frio que
de repente invade a casa
e grita:
LEVANTA!
e no meu máximo
de raciocínio, rapidez
e coragem
respondo com um grunhido.
POEMAS DE JULHO
1º de Julho
"Malditas tarefas domésticas"
Estava lavando a louça
e pensei num poema.
Terminei de lavar alouça
e esqueci meu poema.
fico pensando
por onde ele anda
agora que o esqueci.
Não me arrependo
de tê-lo esquecido,
apenas me consumo
na curiosa saudade
do poema que eu não escrevi.
2 de Julho
"poema sem orgulho do dia anterior"
Tomo um gole
do meu chá frio de gengibre,
e constranjo-me:
Hoje já é 3 de julho,
e não escrevi nenhum poema
ontem.
a vida, pois,
tem dessa coisas.
10 de Julho
Porém,
não desisto.
Há que dar-se um jeito nisso.
Acordo de uma semana sem poesias,
me espreguiço nas palavras,
e escrevo:
apesar do silêncio,
apesar da apatia,
apesar dos tremores,
apesar dos amores,
apesar do sono,
apesarde tudo ser pouco,
eu posso ser muito.
*
Há que bater mais forte
o tambor de meu peito.
Primeiro com raiva,
depois com deleite.
Tornarei-me quem quer que eu seja.
O mundo que me aceite.
*
aos amigos viventes das falsas distâncias:
esta é uma postagem multifacetada.
encerram-se nela muitos poemas, muitos cacos, muitas aberturas...
e uma fechadura.
eis aqui meu término do que comecei lá embaixo.
sempre, com toda a sinceridade. talvez, inclusive, falando da dificuldade de existir ante o sono que o mundo ás vezes dá.
eis-nos aqui.
CENTÉSIMA MILHA
Meus olhos estão
pretos e fundos.
coçam como se
nunca tivessem
visto montanhas,
mares, ilhas.
Meus olhos doem
como se nunca
houvessem lido
poesia.
Cansado escrevo.
e sei da responsa
que é viver
este momento.
A caneta no papel
exprime e espreme
cada gota de anestesia
que minha vida me deu.
Hoje percorro
meu rumo
com meu coração
inteiro.
Na palavra
que se faz
mesmo que escondida
num caderno vermelho,
hoje sou um pouco
mais verdadeiro,
e me lembro de canções
que um dia cantei.
Hoje eu desafio o mundo
sem sair de minha casa.
Hoje eu sou um homem
mais sincero e mais justo
comigo.
Ainda que,
além dos olhos,
possa todo o corpo doer,
todo o corpo grita.
Hoje,
faço-nos poesia
de carne e osso.
Muito já caminhamos.
Muito ainda vamos
caminhar.
Mas de nada vale
uma centena de passos
sem poder cantar.
E por isso
tenho hoje a certeza
de uma centena de milhas
percorridas com poesia.
(termino este post com um misterioso adeus, pios já estou morrendo de sono.)
-o pior é que ainda falta coisa...
quarta-feira, 28 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Parado na internet
de sopetão
parei em frente a uma rara internet
no meio desta cidade
tão cheia de subidas e descidas.
Ouro Preto, casa encantada,
vistas de igrejas que cruzaram mares
montanhas que meu gosto antigo não deixa de querer atingir o topo
e contemplar, tão somente.
Casa cheia de gente, música,
acontecimentos absolutamente pertos
das distâncias.
Caminho com uma metáfora no bolso
pedra lisa, dura, forte!
pedra cheia de vida,
metáfora dos segundos que passam dentro
de um corpo
que na medida do impossível
de alguma forma
se esconde.
Talvez de si mesmo.
E talvez as coisas sejam como no conto sonho de uma flauta.
Ou talvez não.
Enfim, saudades do blog!
Grandes saudações Pedruschianas, mineiras, cheias de vida e música.
A caminho de Diamantina!
A caminho dos Cristais!
quinta-feira, 24 de junho de 2010
poema para uma fruta insossa
terça-feira, 8 de junho de 2010
POEMAS de maio dE PEdRUSCHI
1 de maio
Caralho,
trampar é mó responsa.
2 de maio
Domingo é sinônimo de acordar com o canto dos passarinhos
e não raramente
com uma companhia
para brincar de ser só corpo.
Por que todo dia não é domingo?
3 de maio
dia de confissões
Tinha esquecido dos poemas matutinos
mas hoje começo mesmo sendo 1 da manhã do dia vindouro.
Hoje descobri que o que mais me cansa em são Paulo
é o tempo despendido dentro do ônibus.
O calor derreteu minhas pálpebras
e dormi com uma poema entre as pernas
como se fosse um travesseiro
como uma coxa de fêmea
e percebi
que viver é bom.
Inevitavelmente bom.
4 de maio
Fica decretado em caráter afirmativo e irrevogável na sociedade di Bruschi que todos os despertadores serão destruídos e que quem for adepto ao uso deste aparato demoníaco será caçado mais ardentemente que ratos leprosos.
5 de maio
Por que a noite é tão mais amiga do meu corpo e poesia que o dia?
6 de maio
Um dia longo
a mim espreita.
Atualmente sou um homem moderno
fadado a viver
como em uma linha de produção.
O problema é que pendo
infinitamente mais
ao naturalismo
que à última geração.
Encho a cara de café
e me preparo para a batalha vindoura
contra mim
até que o sono venha e o dia acabe.
7 de maio
No ônibus
uma garota linda
(agora a mais linda entre as garotas)
se ofereceu para me ajudar
a passar meu violão pela catraca do buzão.
Eu aceitei
e por um momento
todas as catracas
do meu peito
estiveram livres.
8 de maio
tudo está consolidado
de forma tacanha
e mesquinha.
Porque justamente eu
seria de outra forma?
9 de maio
É preciso dar um jeito
não de me encontrar,
mas de encontrar onde eu caiba.
já me cansei de sentir-me preso numa lata
como atum desfiado.
10 de maio
Segunda-feira:
não escapo
de papéis sociais
que me atormentam;
Preciso achar tempo
para fazer minha vida
-sem estar
dominado por um destino.
11 de maio
Nasce criatura
em forma de verso
sem criador.
O espaço é responsável,
o corpo é o meio da tinta sair para o mundo
e encher as cabeças de infinidades.
Poeta sou eu ou a caneta?
12 de maio
Vazantes Enchentes
Baixas Cheias
Inconstante ocorre a vida
Obstante
Como marés
Entre ventos revoltos
Se agitam cabelos soltos
de infinitas cores.
Cheia Nova
Crescente decrescente
Acronológica ocorre a vida
contudo banhada do gosto
da perseverante lógica
das luas
Entre tramas e tranças
rizomas dançam
com mil faces.
Abolido o tempo e sem juízos
todos os olhos dizem:
nesta vida
além lua e mar
amar.
Há que aproveitá-la.
13 de maio
quinta-feira – 11:30 da manhã
Como é bom
chutar
com todas as forças
o pau da barraca
e acordar
tarde pra caralho.
14 de maio
O preço do início das sinceridades
é o fim das esperanças
15 de maio
Sábado passado
não escrevi
nenhum poema
Hoje
vou escrever dois
O primeiro nasce
agora
O segundo vem
depois.
16 de maio
Poema de domingo de virada cultural
Quando o que sucede no corpo
não corresponde
com o que se desejaria que sucedesse
desatam-se nós
e o peito afunda
engolindo o sujeito
no desespero
para dentro de si mesmo
E nesse instante que se desfaz
como um acidente foi-ver-já-sofreu
evidencia-se uma paixão.
Não.
Não há sentidos.
17 de maio
hoje um poema do jony em que tropecei esta tarde.
“a vida,
vôo de dragão vertiginoso.
indeléveis amigos, puras experiências,
chaves de libertação em cada ser que sorri
ante os abismos da vida”
18 de maio
Quero escrever algo cheio de ternura
para uma garota específica,
mas agora não consigo,
fica pra próxima.
19 de maio
Para acordar bem
me aconselharam a
dormir ereto
fazer um chá
tomar remédio.
Tem até aqueles que deixam a televisão ligada pela noite inteira
com medo de si mesmos.
Tem que tenha técnicas lapidadas,
um banho dégradé indo do quente para o gelado
ou uma certa quantidade de água
(com precisão milimétrica)
a se tomar antes de deitar.
Isso para não falar nos despertadores e seus milhões de toques e simuladores,
cada qual com uma finalidade específica.
Mas para mim isso tudo não passa
de conversa fiada
Todo mundo sabe
que acordar bem
se acorda
quando se dorme depois
de uma bela trepada.
20 de maio
Uma nova paixão
é
sempre
um revisitar a instabilidades
e banalidades.
Nunca é mais difícil um telefonema
que quando para chamar
uma garota linda
e cheia de incertezas.
21 de maio
POEMA PARA NINGUÉM
O céu nublado
dá distinção às coisas
Minha cabeça nublada
anula
as contemplações catastróficas
e tudo se descobre
como se não passasse de si;
sem elocubrações.
As cores menos brilhantes
porque a luz é opaca
inexplicavelmente
avivam-se.
As formas tomam contornos
definidos.
Os espaços
que nos separam
tornam-se
absolutamente palpáveis.
Embora as névoas sempre tivessem me remetido ao caos,
massa rude e cinzenta, indistinta,
hoje as vejo percebendo.
Tudo no SEU lugar.
E não há como evitar a tristeza de ver
dois corpos que outrora
eram um
separados
a cada instante que se arrola
desaprendendo a amar:
não chegando a ser dois
mas vindo a ser nenhum.
22 de maio
A serpente é a metáfora da revelação.
Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.
Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.
A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;
mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.
Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.
23 de maio
Hoje eu perguntei para minha irmã de 20 dias de vida
o que ela pensava no mundo dela
tão cheio de linguagem
mas tão distante das nossas linguagens!
E ela me olhou com um olhar
de autoridade e grande sapiência,
explodiu num bocejo que faria até um elefante cair no sono
e voltou ao seu quentinho de meu colo sem perturbações.
Tem gente que sabe aproveitar a vida...
24 de maio
O mês vai chegando ao fim
e junto com ele
esse poeta-personagem
que vesti.
Mesmo que indeterminado,
para tudo na vida há um prazo de validade.
25 de maio
Há aqueles que lançam pedras aos passarinhos não para agredi-los, mas para contemplar o seu vôo.
26 de maio
Minha caneta está chegando ao fim.
Sempre tive dúvidas se quem escreveria era eu ou ela.
Agora é a verdadeira hora da emancipação poética:
sem a caneta terei que escrever versos no dia-a-dia
com meus gestos.
---haverá um dia
em que tudo que eu diga
seja poesia---
Poesia ativa,
nada poderia me potencializar mais prazer.
27 de maio
Quem começa a escrever
já sabendo onde quer levar seu texto
exclui dele toda a potência
que
tanto o nada
quanto o todo
têm a despender.
28 de maio
Filas
Esperas inúteis
Trânsitos
as coisas que mais demoram
na vida
são as menos eternas.
29 de maio
Eu tenho pena daqueles que se orgulham de quase não dormir por tanto terem que fazer e inveja daqueles que por tanto terem que fazer dormem um sono agradável que dispensa comentários e citações.
30 de maio
Quando caí do alto de minha libertariedade
foi que descobri
que com a boca fechada
se diz muito mais.
31 de maio
último dia do mês
último poema do mês
é estranho poder escolher dizer
que tudo só começou
ou,
simplesmente,
que acabou.