os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

sexta-feira, 31 de julho de 2009

outra das férias

-o indizével - tudo que clama - que coincide-
não temo deixar sombras
sou leão e não preciso negar.

se por desventura o sol a mim sua dádiva recolher
faço de meu peito nascer a luz que acompanha quem comigo vem.
em riste ponho minha lança
à espera das batalhas que invento.
e na calada da fria noite já não há mais escuridão;
a distãncia entre o instante
e as lembranças
basta-se na espessura de minha pálpebras,
e já nada pode não existir.
tudo reluz.
o caminho que está em nossa frente
é semente germinada
na inseparável solidez
de meu corpo mente;
qualquer pedra que se proste em nossa frente,
qualquer peleja que a carne moa sem antecedentes,
ou acolhimento fervoroso
que ventura nos traga:
não escondo dúvidas em cavernas perdidas
ou por nós proibida.

sem lágrimas, insandecidamente lúcido,
sem medos, vícios ou pudores,
te digo,
como um beijo nos olhos
ou como um choro invadido de ternura:
É TUDO INVENÇÃO MINHA.

e voilá curitiba!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Excerto de conto que nunca escrevi

"(...) Subitamente engrossa a minha língua de não caber na boca, e fica pendurada. Transborda saliva espessa, um caldo grudento e mal-cheiroso, que empapa o chão ao redor, me cobre desde os pés e subindo. Logo sou todo essa sopa escrota de baba, repulsiva; falar não é possível, quero me explicar e não consigo. E nem saberia. Mordo a língua com veemência, quantas vezes consigo, e sangro até morrer."

Um gran finale, sem dúvida.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Recolocadas as rodinhas em meus pés (outra no ônibus para campo grande)

trilho agora a senda que me percorre
Às quinze para as sete da manhã tenho
a leste a dourada e incipiente cunhatã;
a oeste o leve e contínuo pôr-da-lua
Tudo é transformação.
O que antes era sombra
agora se faz de cor
Onde antes via mistério
passo, passo-a-passo,
a conceber sem erro
O horizonte nasce em mim
diverso
e eu nasço com ele.
Sinto que agora já não sou
o que era a dez minutos atrás.
Galerias de árvores tortas
(que me lembram corpos que dançam)
e de pinheiros
aves que voam e vertem seus gorjeio
Um tênue matiz a envolve
e prenuncia a queda da lua
Um degradê em constante
mutação
belo, porém sem pudor
nem perdão,
a vinda do sol anuncia.
"Daqui a pouco teremos calor".
Na ausência de uma câmera fotografica
para reter a paisagem irretível
no poema capturo uma imagem,
clara e indefinível,
de meu coração.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Postagem com calor na barriga

o compromisso com as palavras.

as palavras
que vivemos e não sabemos.

as palavras que sabemos
e ainda não vivemos.

palavras que desconhecemos.


Gluck.

Shoshin.



















Auguri.


Ífe.


palavras que pintamos
nas ilhas,
nas vidas,
nas voltas.

Do.











nossas vidas,
palavras.


Kotoba.








silêncio
e homem.

palavra.


旅人
(tabibito)

viajandante,
sempre sempre,
andarilho.

vamos em frente,
vamos em frente.

terça-feira, 14 de julho de 2009

no buzão indo pra campo grande

rodovia de duas mãos

desfigurado vou
a lua em meus pés
sou um lance de dados

com a lua em minha tez
sinto agora o revéz
alto, por longe ter vislumbrado

tudo são sombras
que voláteis passam

vorazes semelhanças
com o odor que escorre
no peito angustiado

comigo não vou só:
a lua me abre
todas as possibilidades

e me faz nada aquém
de névoa ou oceano
ou seja,
atingi meu destino

mesmo que provisoriamente
sou agora
deus de mim mesmo

Postagem com frio na barriga

como se num balanço imenso
ou num salto de asa delta
quem sabe até numa carícia às escondidas
inauguro em mim o estado de incertezas
no qual sempre vivi

entrecaminhos que se postam
reporto a imagens de outrora
para ter certeza do que fui.

penso em escrever um soneto,
algo com estrutura, um sopro feito,
para garantir a sutura
dos pensamentos.

ia dizer custura, teia,
imagem que nasce da crença
na descrença, uma tecelagem de carnes
todas a ponto de prazer ou putrefação.

a linha é tênue.
todas as linhas são tênues,
porque o todo é único e tudo é o mesmo.

não sei onde estás, mas sei
que me ensinastes também
a ser viajante.

preferia dizer viajandante.

nada como um sorriso amigo
que vem ao meu encontro
sempre que carrego no bolso
do rosto
um imenso abraço
gratuito no desembaraço
que constitui as relações humanas.

busco recompensas, talvez uma ilha,
um reino, que há de me bastar.

dando voltas afundo revoltas
e chego a descobrir, na beirada do triz,
o sentido de amar.

ó mar salgado,
quanto do teu sal são lágrimas minhas
que derramei de olhos fechados.

a ilha está na testa,
e o olho está na ilha.

atino, atesto, o olho, a ilha.
daremos a volta
e depois de voltearmos tudo
só nos restará uma possibilidade:
o retorno.

o retorno que não passa,
não escapam eiras nem beiras,
do compromisso que temos para com nossas vidas.

E, aqui, meus amigos, para com as palavras,
que tanto estimamos.

Auguri, Pedruschi.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Postagem às escondidas

Postei-me.
Postei-nos.
E por postar-nos,
comecei-me.
Ser eu novo.
Ser um novo nós.
Seguindo o vôo das araras.
Rasgando as águas dos rios.
Riscando todos os mapas.

Comecei-me.
Por que não começai-vos vocês também?

sigam o caminho que quiserem logo abaixo...

domingo, 5 de julho de 2009

Postagem espontânea

Hoje eu quis fazer uma postagem espontânea.
Me utilizar daquilo que sou
E de tudo o que sopra em mim
Para fazer nascer nas palavras
Algo que não seja de meu conhecimento:
Eu.
Você.
Nós.

Somos um?
Às vezes temo ser tu
E temo que sejas eu

Por quê?
Pois assim minhas suposições não seriam em vão,
não seriam errôneas,
e você (eu?) teria que me (te?) ouvir.

Só há um problema:
O ânimo que já não floresce em meu peito,
e eu, mesmo sabendo o por quê, não sei como lutar.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O poema específico de Rilke (com duas traduções)

A PANTERA
Rainer Maria Rilke
(Trad. Augusto de Campos)

De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.

A PANTERA
Rainer Maria Rilke
(Trad. Geir Campos)


Varando a grade, a nada mais se agarra
o olhar tomado de um torpor profundo:
para ela é como se houvesse mil barras
e, atrás dessas mil barras, nenhum mundo.

Seu firme andar de passos gráceis, dentro
dum círculo talvez muito apertado,
é uma dança de força em cujo centro
ergue-se um grande anseio atordoado.

De raro em raro, só, o véu das pupilas
abre-se sem ruído — e deixa entrar
a imagem, que sobe, pelas tranqüilas
patas, ao coração, para aí ficar.