os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

domingo, 30 de maio de 2010

cada instante se configura
enquanto intento
que se pintura
como insenso morto

cada parte do todo não passa
de admirações


e já não posso me deslumbrar
com nada

e correr o risco
de perder o pouco
que será eterno
se condizermos.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Antes que existisse o mar, a terra e o céu que tudo cobre, a Natureza apresentava em todo o universo um aspecto único. Foi o que teve o nome de Caos, massa rude e confusa, pêso inerte, onde em promiscuidade e discórdia se achavam os germes das coisas. Nenhum sol dava ainda a luz ao mundo, nem a lua, crescendo, restaurava no céu a perdida forma, nem a Terra estava suspensa no ar que acerca, equilibrada pelo seu próprio pêso, nem Anfítrite estendia os braços para as longas costas dos continentes. Onde era terra, ali estava também o mar e o ar, e assim não tinha firmeza a terra, nem luz o ar, nem fluidez a água: faltava às coisas uma forma própria. As substâncias se contrariavam, porque, no mesmo corpo, lutava o frio com o quente, o úmido com o sêco, o duro com o mole, o pesado com o leve."

d' AS METAMORFOSES dE OVÍdIO

domingo, 16 de maio de 2010


dando sequencia às imagens:

o que
está
em voga?

sábado, 8 de maio de 2010

Centésimo

CACOS


I.

Quando chega
o fim do dia,
desafogo-me.

Escuto.

Um poema me
encontra no escuro.

Resoluto.

Há que merecer
o que o acaso tem
pra dar.

Todo o mais
é ser

e criar.

II.

É madrugada.
Sozinho, na calçada,
Engulo um poema.

Cada letra
Minha boca degusta.
Cada traço.
Cada tinta.

Respiro.
Sou.

Não há digestão.
Há metamorfose.

Mnha pele:
tatuagens à tona.

Homem desaparece.

Surge poema.

§

Calcifico um poema
na caverna de minha casa.
Meu corpo não me diz nada,
Está com frio demais,
apenas observa as goteiras.
Se translúcido que sou,
quantas sombras me trespassam?
Delícias de poesias
me atravessam mil.
E já nem mais sei
por que sofro.
Começo até a escrever
ao contrário.
Escrever na luz para
chegar à sombra,
e quem sabe um tanto
em paz e sem sonho,
dormir.
Dormir sono de quem
foi lavrado pelas palvras,
cansaço pra peão nenhum
botar defeito.
Dormir sono de quem
nem se mexe
senão acorda.
Silêncio!
Não se deve atrapalhar
o poema.

-POEMA ENTRE PARÊNTESES-

Tudo o que quero é
um fone de ouvido
que emane silêncio
no último volume.


§ derradeiro

Encerro esta postagem
com a mais sincera pausa
de quem se encontra
numa lan house escrota
entre rocks burros,
vozes de pré-adolescentes
que não têm culpa de serem
completos idiotas,
(mas o são)
e vozes de adultos,
dentre os pré-adolescentes,
que têm toda a culpa
de serem inacreditáveis
idiotas.

Há muito o que percorrer,
e vocês sabem,
percorro,
percorremos,
mas há horas em que é melhor
corrermos
para evitar catástrofes
-e não falo aqui da total aniquilação
deste bando que inocentemente
me cerca e não sabem o que tenho nas mãos-
falo sim da interferência
destas bostas nas nossas Distâncias,
pois vocês sabem o quanto
eu me valho
do meu redor
para a poesia.

Reconheço que devo aprender
a passar isento,
mas se inda não o sei,
hei de me valer da fuga
em prol da sobrevivência.

Todo o mais
é ser
e criar (paciência).

Grande abraço.
Nos encontraremos em breve.
(Isso ainda não terminou.)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

a lua,
sorriso de gato,
vem encher
de riso e escárnio
a noite que minha barriga
cheia de sono e cerveja
carrega nas vicissitudes
da fortuna
ou da simplicidade

a lua, com a barriga voltada pra baixo,
veio me esfregar na cara
que o mundo está aí,
pronto para ser usado.

Então lembrei de um verso,
e bradei nas entranhas dessa intrometida
e linda lua:
"eis minha vida, pronta para ser usada!"