os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quarta-feira, 29 de abril de 2015

cago

"cago"

cago

hoje eu cago um poema
pra você

pra ele, pra ela
pra nós

que parte fazemos do todo?
que parte fazemos da merda?

cago, sem dúvida
cago, mas hoje

um poema

que não saía mais de minhas mãos, dedos
canetas

boca, olhos,
pinto ou buceta

hoje me sai um poema
é do cu

pois não me resta outra saída
pra falar

do desencontro entre o que eu gostaria
que houvesse no mundo
e o que há

especialmente no brasil
são paulo, minas
paraná
sertão
rios, matas
e o mar

e ainda
a atualíssima
piada
do protesto pela
militarística intervenção
sendo tratado cordial e
heroicamente pela televisão,

enquanto o protesto
em prol de uma melhor
educação
é militaristicamente
escurraçado

ah, essa piada
me arranca lágrimas
mil lágrimas
porém
sem nenhuma risada

por isso hoje cago
esse poema-petardo

pra ti, pra eles
pra mim, pra todos

para o absurdo que é
esse lugar que vivemos

que se quer
bater humilhar matar
matar matar
e só depois talvez prender
jovens

muito antes de criar
a condição
para que sejam
outros que não
bichos bandidos,
bons-bandidos-mortos

muito antes de criar a condição
para que sejam humanos

e desse modo
fazemo-nos também
desumanos

por isso hoje cago
cago
cago
cago

um poema-soluço

e espero
com irônica e talvez egoísta
raiva
eu espero
que não me estoure
a hemorróida

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Saudade de nóis

"A experiência poética é uma revelação de nossa condição original. E essa revelação é sempre resolvida numa criação: a de nós mesmos.”

Octavio Paz, em O Arco e a Lira