os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

domingo, 28 de junho de 2009

POEMA PARA UMA POMBA MUITO BURRA

Eis o mundo animal!
E eu, humano em demasia,
observo a fragilidade da
vida.

Uma pomba,
interessada em literatura
moçambicana,
veio de longe.

Veio de longe
e, de longe,
esqueceu-se que
no mundo humano
existem janelas,
e é preciso
abrí-las para
voar através.

Explode Mabata-bata.
Explode a Pomba Burra.

Assim a chamo
pois sou meio
retardado,
mas não deixo
de sentir compaixão
pelo nobre pássaro
assim tão parecido
com qualquer um de nós
em nossa tão frágil
condição de
vivos.

Um gato magrelo
ganha almoço
prá uma semana.

Eis o mundo animal.

E eu, humano em demasia,
não canso de à vida
observar com poesia.




Poema escrito durante uma aula de introdução à literatura, na unesp de Assis, no dia 09/06/09.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"INSUPORTÁVEL. O sentimento de um acúmulo de sofrimentos amorosos explode nesse grito: 'Isso não pode continuar' "

"3. Quando passa a exaltação, fico reduzido à mais simples filosofia: a da resistência (dimensão natural dos verdadeiros cansaços). Suporto sem me acomodar, persisto sem me emudecer: sempre perturbado, nunca desencorajado; sou uma boneca Daruma, uma poussah sem pernas em que se dão vários petelecos, mas que finalmente retoma seu prumo, graças a uma quilha interior (mas qual é a minha quilha? A força do amor?) É o que diz um poema popular que acompanha essas bonecas japonesas:

'Assim é a vida
Cair sete vezes
E se levantar oito.' "

Mano do céu, olha que coincidência eu ter lido isso hoje.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Após um poema específico de Rilke.

Um momento fortuito de sol e tigre
A lança dissolve e enlaça o lance que sinto no lince
Que pinça a alma e pulsa o coração.
Pantera que vem ao encontro
É hera que cresce e estrangula,
Já era.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

sans souci

Indiferentemente a tudo, sigo o caminho.
Procuro o caminho.
Construo o caminho.

Meu tempo é agora, porque não é possível conceber o quando.
O cheiro dos dias se sente no fazer ininterrupto,
no cansaço e no prazer.
Prazer capaz de tudo
Prazer que espanta cansaço
E faz do corpo qualquer coisa mágica
- em cópula-

Já escrevi muito em folhas soltas
Agora minha predileção é escrever
Na pele.

Poesia tatuagem,
corro um corpo com dedos leves,
percorro como máquina as letras do teclado,
faço um chá e ouço música meditativa.
Depois de horas a fio que passam sem consciência,
parece que o mundo me olhou pela nuca
e disse:
estou ao seu lado, mas não sou nada.
Então olho no olho da cara do mundo e digo:
estou ao seu lado e não sou nada.

Um ar paralelo sempre está presente,
e me dá vontade de escrever risadas
e pesadelos
e sonhos (graça).

Para esquentar o blog, para convencer-me de tudo que não sei
Contento-me com uma poesia de alguns meses atrás:

No meio da multidão, sozinho,
Invento um corpo de sobrevivência.
Domo meu gênio indomável,
Ou melhor, o afundo
Em meus porões.
Junto com os morcegos
E os ratos.
E tudo cheira lavanda.

domingo, 14 de junho de 2009

Compreender

"Fragmentos de um discurso amoroso" - Roland Barthes

"Que é que eu penso do amor? - Em suma, não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. O que quero conhecer (o amor) é exatamente a matéria que uso para falar (o discurso amoroso). A reflexão me é certamente permitida, mas como essa reflexão é logo incluída na sucessão das imagens, ela não se torna nunca reflexividade: excluído da lógica (que supõe linguagens exteriores umas às outras), não posso pretender pensar bem. Do mesmo modo, mesmo que eu discoresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar pegar o conceito "pelo rabo": por flashes, fórmulas, surpresas de expressão, dispersos pelo grande escoamento do Imaginário; estou no mau lugar do amor, que é seu lugar iluminado: 'O lugar mais sombrio, diz um provérbio chinês, é sempre embaixo da lâmpada.' "

essa era boa para ter levado naquela roda literária!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eddie Vedder - Into the Wild

WE NOW WALK INTO THE WILD


Eis a nossa jornada poética, mergulhando no sonho dos que sonham, personificados na figura de Cristopher McCandless, ou Alexander Supertramp, vivido tão-somente por ele mesmo, historizado por Jon Krakauer, filmificado por Sean Penn, interpretado por Emile Hirsch, musicado e lirizado por Eddie Vedder, cuja obra serviu de matriz e inspiração para que fosse também engolido e regurgitado aqui por nós. Especialíssimas fotos patagônicas por Carolina Paes de Andrade, minha querida irmã andarilha. Cada música foi "poemizada" por um de nós: Pedro Rabello, Pedro Bruschi, João Pupo. Para este feito tínhamos algo em comum: o prazer com as jornadas que percorrem as naturezas selvagens. Aproveitem esse grito.

***

“Setting Forth”
por Pedro Bruschi

Força que percorre:
Faça do grito meu uma espada oca
Que se quebre a cada golpe desferido
E que cada ferido seja invadido
Pelo nada de luz que no oco espaço se escondia.
Continuando, busco planetas inalcançáveis
E as palavras me ajudam.
O indizível é essencial à fala.
Descontinuando, (ou quiçá mergulhado no risco incerto que abre possibilidades, mas angustia)
Vou e volto sobre caminhos já trilhados
Desvendando a infinidade de expressões que se encerram em um mesmo ponto.
Ser. (um pensamento que é massa cinzenta e pôr-do-sol brilhante me corrói)
Ser.
Ser. (a não preocupação é uma conquista à custa de muito esforço ou o oposto?)
Vamos em... qualquer direção.
Porque a frente talvez não esteja adiante.
E nosso juízo nada garante.



“No Ceiling”
por João Pupo













As fronteiras de meu coração se esvaem.
E hoje ainda é de manhã.
Tenho todo um Hemisfério para percorrer
e voltar ainda hoje à noite
para ver a lua brilhar sobre a minha terra.
Se a minha terra é o chão que eu piso,
caminhar para frente é a ida
e a volta de meu percurso diário.

(Guardo essa sabedoria na carne
que envolve meus ossos)


Tão distante (“Far Behind”)
por Pedro Rabello













Sentir tudo ficando tão distante
e não sentir nada!
Sentir uma sede insaciável
do próximo passo!
Sentir o vento no rosto
tal e qual um orgasmo!
Sentir a liberdade se descolando
da palavra e guiando cada ação!

A sociedade
é uma anedota
que me contaram
e eu não achei
a menor graça.



Ascender (“Rise”)
por João Pupo



Não é tempo
o que perco:
perco à mim mesmo
quando quero me mover
mas fico parado,

assim como perco
à mim mesmo
quando quero ficar parado
e me movo.

Eu sempre perderei
à mim mesmo
enquanto insistir em
ruminar erros
do passado.

Gente rapidamente se esvai.
Não desperdiço esta vida.



“Long Nights”
por João Pupo













Hoje eu sinto que tenho uma alma.
Não sei se a terei amanhã.
Mas hoje eu sinto,
por dentro de mim,
por dentro da noite,
que tenho uma alma até
amanhã de manhã.
E sigo minha jornada,
sem medo,
no escuro.



“Tuolumne”
por Pedro Bruschi

O tempo correto corre e constrói
{A espera é um ritornello pálido}
A catarse por vezes se esconde na repetição
e a repetição por vezes se esconde na intenção.
{As definições são clima}
As incertezas são certezas na espera de um porvir qualquer.
Um canto decantado de infindas idas e vindas
descansado da fadiga que míngua e cega a língua.
A fala, incerta mala, que carrega tantas que não sabe.
Quais sensações podem ser despertas?
Quais são as possibilidades?
Eu sei de gama que percorre e ama a cor das promessas.
A lama por que passamos, poesias em roda declama,
Palavra em chama que percorre e engana
A falta de gana que pseudo-corre sobre a in-verde grama
De nossas existências malandras.
Estou lûmine. Ilûmine.
Iluminar a trilha, a senda que finda,
Não míngua o poder que temos,
Mas redebrilha o presente.
E não faz de nós nada que não seja tudo.
Porque o infinito está em nosso peito,
roça e cresce porque deseja
-coça e coça-
formigas irradiantes que buscam a sobrevida.
Maleantes ou não
No estreito extremo extrospectivo
que que possui o direito de existir
Não como como,
Mas como é.
Assim desejamos e corremos no instante brilhante
Que não decifra, mas brinca,
No intervalo entre o correto e o incorreto,
Concreto e in-concreto,
Onde imprecisamente, tudo é mais gostoso.

A festa atesta.
E viva o tesão comprometido
Com a minha e a tua vida.


“Hard Sun”
por Pedro Rabello
era o sol forte
irradiando em mim
era cada poro
vulcão em erupção

era o sal forte
enrijecendo o gosto
era osso quebrando
a qualquer vibração.

vista bonita
de alto de morro
espirro espirrado
fome de almoço certo:

esse é o gostar
que eu quero,
é o querer
que gosto.

Pois
felicidade só
existe
se compartilhada.



“Society”
por Pedro Bruschi

o pouco que buscamos
é muito
se qualidade quantizamos.

Nada é necessário, em última instância.

nessa vida
sempre quero
mais e além

ambição infinita
de tudo alcançar.
E o eterno esforço,
constante.
-auto mutação intencionante-
Por cedo ter descoberto:
quanto menos, mais.

E, no fundo,
uma incoerência:
teu Nada
ser meu Tudo.


“The Wolf”
por João Pupo



















Um canto ancestral percorre
montanhas em meu peito.
Sou todo essa voz
que uiva
ante a sombra que se
deita no pé
da montanha gelada,
e sou eterno.

Não há mais o que duvidar:
Em meu olho brilha
o sorriso do lobo.
Eu não caminho mais sozinho
pela terra.
Tampouco serei o último
à caminhar.




Fim da estrada (“End of the Road”)
por Pedro Rabello

Começo a entender
que o fim da estrada
é a linha que separa
o mundo do não-mundo.

O que é mundo para eles
e o que é mundo para mim
(e para tantos outros...)
O que para eles é temor
E pra mim é motivação.

Onde a lua é mais lua
Onde as horas não se contam
E onde o homem é posto
em seu devido lugar.

Viva McCandless
Viva Thoreau
Viva Hemingway,
Caeiro e todos
os povos da floresta!

A humanidade tentou
em vão
dominar a natureza
se esquecendo
que é parte orgânica
e inseparável dela.



“Guaranteed”
por Pedro Bruschi

O homem busca respirar.
Te parece um arfar de pulmão,
um ribombar de vento que enche velas de caravelas,
dentro de si, um clamor por liberdade?
O homem procura, antes das chaves,
a consciência de que as gavetas existem.
O que há dentro da escarpa facetada, nossas mentes,
que nada escondem mas exigem uma profusão de questões
e ainda um expressar-se, mesmo que inseguro?
Não ser, mas sentir-se.
Essa força saborosa causa deleites formidáveis
nos que já caminham de pé
e se esqueceram do prostar-se ajoelhado e improfícuo.
Atração e repulsão.
Agora seremos todos os lugares,
porque as regras foram engolidas,
as regras se afogaram na ira da enchente incompreendida
no mistério dos iluminares que foram impensados:
Nós.
Eu te compreendo,
com ou sem jeito, o que vale é tua intenção atrevida.
E nesse ir e vir de conhecimentos mútuos
sei que me compreendes e acende em teu peito,
que já não é somente teu, tampouco somente nosso,
a chama da verdade de tua existência.
Concebes, teus pensamentos são puros
e nas corredeiras das infinidades que escorrem pelos encantos de tuas selvas,
encontro um jeito de ser.
E já não somente sou.
Agora estou.
Sem ocultar em mim nada que exista,
proclamo o inexistente, clamo pelo instante,
e sinto orbitando em mim tudo que está por vir.
Indignados, alimentemos nossos exageros característicos,
se assim feito, vos garanto:
nessa senda encontraremos todos os destinos
e eles aceitarão, felizes, a liberdade.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Umberto Eco

"as formas não industriais de comunicação podem tornar-se as formas de uma futura 'guerrilha de comunicação': a contínua correção de perspectivas, a interpretação sempre renovada das mensagens"