os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

terça-feira, 27 de maio de 2014

POUSADA PRIMAVERA

uma flor
no escuro
me pergunta
como é ela flor
sem a luz do dia;
logo então a capturo
e no broto-imagem vejo
aquele pouco de passado
e um pouco tanto de futuro;
por isso decidi que já não durmo
e saio brindando as cores da noite.

domingo, 25 de maio de 2014

domingo, 11 de maio de 2014

Poema para Max e os Felinos

Poema para Max e os Felinos

Numa manhã me alimento
de vidas jovens
que logo se tornam maduras
e então velhas
vidas humanas
vidas felinas
que também nelas habitam.

Numa manhã, às gotas
de meu suor descendo a
pele
avisto e sinto
em minha vida, entrejovem ainda
também felinos,
ronronantes, guinchantes
quietos e temerosos.

Aguardo o bote
com curiosidade,
imaginando a direção
a qual irão atacar.
O brilho do olho de minha vida
reluz
como o daquele jaguar.

*

"Max e os Felinos" é um livro de Moacyr Scliar, lançado em 1981.
Foi oficialmente reconhecido como a inspiração para o livro "A vida de Pi", de Yann Martel, que depois foi adaptado para o cinema com título homônimo.
Eu vi o filme em 2012, e, ao saber da inspiração nessa história de um autor brasileiro, fui atrás do livro de Scliar. Li-o em um dia, em janeiro deste ano, e gostei muito.
Dessa leitura relâmpago numa tarde quente de verão brasileiro, pulou um poema.
Reli o poema esses dias e fiquei afim de publicá-lo aqui, e fazer-lhes a seguinte pergunta: Vocês já escreveram algum poema em homenagem a algum filme/livro? Ou até mesmo, em homenagem a algum outro poema?

domingo, 4 de maio de 2014

O ERRO (poema para um objeto inanimado)

nos subterrâneos do cotidiano, algo escuso dava errado.
se esquivava o erro a cada tropeço que pudesse levar a encontrá-lo.
se escondia atrás de seus pares semelhantes, porém nunca iguais.
somente no momento em que despertou sua especifidade no desejo alheio, o erro, transbordou.
e foram tantos sentimentos simultâneos que o erro pareceu semelhante a uma gargalhada.
e o erro ria e ria.
e que erro era!, daqueles grandes que tinham corpo, matéria, som.
aquele erro tinha muita história de acerto.
peso de passado.
aquele erro já tinha sido carregado nas costas, de lado, dentro do carro, sobre a cabeça, na bicicleta.
sua especialidade era ficar no colo, e quando estava no colo, o erro cantava, sempre cantava.
e nunca tinha sido erro.
o erro já tinha viajado, sido emprestado.
baita erro cheio de experiências!, desconfio que ele, inanimado, até tenha amado.
sido amado sim, tinha sido muito amado, por tantos dedos que tangiam com cuidado o agora erro, desaparecido.
o que transformou o algo que era no atual erro errado, sumido, despetalado, sem pernas, apoios, cotovelos, ombros, esqueleto?
o erro foi desaparecer.
mas o que desaparece se encontra.
procuro o erro para dele fazer surgir algo, torto que seja, mesmo que continue errado, mas cheio de vida e presença.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

" A Flor Do Pessegueiro"

"Colhi, ontem, uma flor de pessegueiro, e oferecí-a à minha bem-amada. A boca da bem-amada é tão pequena e tão rósea como a flor do pessegueiro.
Apanhei, depois, no ninho, uma andorinha de asas negras, e a oferecí à bem-amada. Suas sobrancelhas se parecem com as asas da andorinha.
Hoje pela manhã, estava murcha a flor do pessegueiro, e a andorinha fugira pela janela que deita para a Montanha Azul.
Mas a boca de minha amada continuava cor de rosa e suas negras sobrancelhas não tinham voado."