os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma carta resposta não enviada ao Jony (um dia leremos em voz alta)

Saio do banho quente
na noite fria

Já não sou mais homem
de sentir
de sofrer
e das dores do universo
fazer as minhas;
ou vice-e-versa.

Visto o verso
roupa quebrantada
letras na pele limpa
-parangolé de palavras-
e percebo:
Meu raciocínio é poético.

Abro uma cerveja.

Sorvo na noite fria
um corpo quente:
para falar de temperaturas
nada pior que um termômetro.

Aprendi de uma criança:
nada é em si
tudo é em quando:
-Calor é quando a gente põe a mão
(o olho, o dorso
o sexo, o corpo,
o colo, a palavra)
e esquenta.

FRIO?

A cada gole de cerveja
gelada
sinto a temperatura
interior
em conflito com a temperatura
exterior.

Sigo o fluxo sem muito pensar
em consistência
tragédia
ou crença,
talvez pensando durante o gesto;

poesia assenta
o pó
poesia varre
o pó
poesia junta todo
o pó
do mundo, e depois assopra
o pó
só pra recolher de novo.

Foi assim que sentei outro dia com um amigo.

Sinto-me escrevendo como um menino,
poderia até fazer versos de amor.
(Preferia um ouvido mudo
para sussurrá-los).

Outro gole de cerveja.

Hoje a noite me chamou e eu não a fui encontrar.
A fiz entrar em minha casa
e escolher meu caderno
para sua morada.

Digressão: eu sou um típico fantoche manipulador
(que raios é isso?)

Pois é, eu e a noite somos velhos conhecidos,
não vou eu a ela
e ela vem a mim,
assim é que é,
tipo a montanha e Maomé.
(que rima pobre!)

Acabo uma cerveja
e continuo, obstinado,
na inspiração.

Abro outra cerveja
e com ela, um poema:
"Minha sede repousa num maracujá grande e pesado na fruteira de casa.
Espero."

Grande e gordo
Sede
Vontade
Desejo
Ceder

Já percebo impulsos...
me contento em viver
e tratá-los com naturalidade

DESCUBRO

que para fazer poesia
não preciso, como outrora,
do pouco fazer muito.
Posso cheirar o mundo com olhos de jasmim
buscar no fundo do castelo perdido
um pedaço de jardim
ou me embriagar da sede
da fome
e do barulho insuportável
da construção em frente de casa
que não me deixaria,
se eu quisesse,
dormir.

Poesia nasce do gesto.

Queria olhar para o céu e ver uma constelação
mascá do pó só vejo o chão!

POESIA!!!

Traz-me um lava jato estelar
pra eu limpar toda a sujeira do mundo?

Verso anti-sintético,
sinto-me o canto de um bicho estranho,
nasço em tremolos gigantes

terremotos de percepções

enchentes de lágrimas

sussurros de desesperos
ou quem sabe de amantes.

Uma gota de sangue em meio à chuva
derrubou a mais alta sociedade científica
a mais baixa possibilidade
para uma lógica no mundo intrínseca:
meu verso contribui para tanto,
no entanto,

_pausa para um cerveja_

"não alcanço sequer a fímbria do saber que em vão persigo".

Minha disposição baixa
e o sono clama...
vou fechar a noite
com um versinho em chamas:

Vem,
te direi em segredo
onde leva
esta cama.

E viva o Al Pacino,
ele está no meio de nós.

Último gole de breja.

Sono.

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