os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quinta-feira, 24 de junho de 2010

poema para uma fruta insossa

tive outrora certa aptidão ao manejo das plantas;
cuidar da natureza
parece que abrilhanta.

benquerença?
que! nada demais não..
pra mim mais quase
uma doença;
coisa dessas
que querendo ou não
a gente herda.

foi no meio tempo dessa ensinança
que lá, um dia, eu descobri:
até morango nasce em merda.

terça-feira, 8 de junho de 2010

POEMAS de maio dE PEdRUSCHI

1 de maio

Caralho,

trampar é mó responsa.

2 de maio

Domingo é sinônimo de acordar com o canto dos passarinhos

e não raramente

com uma companhia

para brincar de ser só corpo.

Por que todo dia não é domingo?

3 de maio

dia de confissões

Tinha esquecido dos poemas matutinos

mas hoje começo mesmo sendo 1 da manhã do dia vindouro.

Hoje descobri que o que mais me cansa em são Paulo

é o tempo despendido dentro do ônibus.

O calor derreteu minhas pálpebras

e dormi com uma poema entre as pernas

como se fosse um travesseiro

como uma coxa de fêmea

e percebi

que viver é bom.

Inevitavelmente bom.

4 de maio

Fica decretado em caráter afirmativo e irrevogável na sociedade di Bruschi que todos os despertadores serão destruídos e que quem for adepto ao uso deste aparato demoníaco será caçado mais ardentemente que ratos leprosos.

5 de maio

Por que a noite é tão mais amiga do meu corpo e poesia que o dia?

6 de maio

Um dia longo

a mim espreita.

Atualmente sou um homem moderno

fadado a viver

como em uma linha de produção.

O problema é que pendo

infinitamente mais

ao naturalismo

que à última geração.

Encho a cara de café

e me preparo para a batalha vindoura

contra mim

até que o sono venha e o dia acabe.

7 de maio

No ônibus

uma garota linda

(agora a mais linda entre as garotas)

se ofereceu para me ajudar

a passar meu violão pela catraca do buzão.

Eu aceitei

e por um momento

todas as catracas

do meu peito

estiveram livres.

8 de maio

tudo está consolidado

de forma tacanha

e mesquinha.

Porque justamente eu

seria de outra forma?

9 de maio

É preciso dar um jeito

não de me encontrar,

mas de encontrar onde eu caiba.

já me cansei de sentir-me preso numa lata

como atum desfiado.

10 de maio

Segunda-feira:

não escapo

de papéis sociais

que me atormentam;

Preciso achar tempo

para fazer minha vida

-sem estar

dominado por um destino.

11 de maio

Nasce criatura

em forma de verso

sem criador.

O espaço é responsável,

o corpo é o meio da tinta sair para o mundo

e encher as cabeças de infinidades.

Poeta sou eu ou a caneta?

12 de maio

Vazantes Enchentes

Baixas Cheias

Inconstante ocorre a vida

Obstante

Como marés

Entre ventos revoltos

Se agitam cabelos soltos

de infinitas cores.

Cheia Nova

Crescente decrescente

Acronológica ocorre a vida

contudo banhada do gosto

da perseverante lógica

das luas

Entre tramas e tranças

rizomas dançam

com mil faces.

Abolido o tempo e sem juízos

todos os olhos dizem:

nesta vida

além lua e mar

amar.

Há que aproveitá-la.

13 de maio

quinta-feira – 11:30 da manhã

Como é bom

chutar

com todas as forças

o pau da barraca

e acordar

tarde pra caralho.

14 de maio

O preço do início das sinceridades

é o fim das esperanças

15 de maio

Sábado passado

não escrevi

nenhum poema

Hoje

vou escrever dois

O primeiro nasce

agora

O segundo vem

depois.

16 de maio

Poema de domingo de virada cultural

Quando o que sucede no corpo

não corresponde

com o que se desejaria que sucedesse

desatam-se nós

e o peito afunda

engolindo o sujeito

no desespero

para dentro de si mesmo

E nesse instante que se desfaz

como um acidente foi-ver-já-sofreu

evidencia-se uma paixão.

Não.

Não há sentidos.

17 de maio

hoje um poema do jony em que tropecei esta tarde.

“a vida,

vôo de dragão vertiginoso.

indeléveis amigos, puras experiências,

chaves de libertação em cada ser que sorri

ante os abismos da vida”

18 de maio

Quero escrever algo cheio de ternura

para uma garota específica,

mas agora não consigo,

fica pra próxima.

19 de maio

Para acordar bem

me aconselharam a

dormir ereto

fazer um chá

tomar remédio.

Tem até aqueles que deixam a televisão ligada pela noite inteira

com medo de si mesmos.

Tem que tenha técnicas lapidadas,

um banho dégradé indo do quente para o gelado

ou uma certa quantidade de água

(com precisão milimétrica)

a se tomar antes de deitar.

Isso para não falar nos despertadores e seus milhões de toques e simuladores,

cada qual com uma finalidade específica.

Mas para mim isso tudo não passa

de conversa fiada

Todo mundo sabe

que acordar bem

se acorda

quando se dorme depois

de uma bela trepada.

20 de maio

Uma nova paixão

é

sempre

um revisitar a instabilidades

e banalidades.

Nunca é mais difícil um telefonema

que quando para chamar

uma garota linda

e cheia de incertezas.

21 de maio

POEMA PARA NINGUÉM

O céu nublado

dá distinção às coisas

Minha cabeça nublada

anula

as contemplações catastróficas

e tudo se descobre

como se não passasse de si;

sem elocubrações.

As cores menos brilhantes

porque a luz é opaca

inexplicavelmente

avivam-se.

As formas tomam contornos

definidos.

Os espaços

que nos separam

tornam-se

absolutamente palpáveis.

Embora as névoas sempre tivessem me remetido ao caos,

massa rude e cinzenta, indistinta,

hoje as vejo percebendo.

Tudo no SEU lugar.

E não há como evitar a tristeza de ver

dois corpos que outrora

eram um

separados

a cada instante que se arrola

desaprendendo a amar:

não chegando a ser dois

mas vindo a ser nenhum.

22 de maio

A serpente é a metáfora da revelação.

Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.

Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.

A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;

mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.

Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.

23 de maio

Hoje eu perguntei para minha irmã de 20 dias de vida

o que ela pensava no mundo dela

tão cheio de linguagem

mas tão distante das nossas linguagens!

E ela me olhou com um olhar

de autoridade e grande sapiência,

explodiu num bocejo que faria até um elefante cair no sono

e voltou ao seu quentinho de meu colo sem perturbações.

Tem gente que sabe aproveitar a vida...

24 de maio

O mês vai chegando ao fim

e junto com ele

esse poeta-personagem

que vesti.

Mesmo que indeterminado,

para tudo na vida há um prazo de validade.

25 de maio

Há aqueles que lançam pedras aos passarinhos não para agredi-los, mas para contemplar o seu vôo.

26 de maio

Minha caneta está chegando ao fim.

Sempre tive dúvidas se quem escreveria era eu ou ela.

Agora é a verdadeira hora da emancipação poética:

sem a caneta terei que escrever versos no dia-a-dia

com meus gestos.

---haverá um dia

em que tudo que eu diga

seja poesia---

Poesia ativa,

nada poderia me potencializar mais prazer.

27 de maio

Quem começa a escrever

já sabendo onde quer levar seu texto

exclui dele toda a potência

que

tanto o nada

quanto o todo

têm a despender.

28 de maio

Filas

Esperas inúteis

Trânsitos

as coisas que mais demoram

na vida

são as menos eternas.

29 de maio

Eu tenho pena daqueles que se orgulham de quase não dormir por tanto terem que fazer e inveja daqueles que por tanto terem que fazer dormem um sono agradável que dispensa comentários e citações.

30 de maio

Quando caí do alto de minha libertariedade

foi que descobri

que com a boca fechada

se diz muito mais.

31 de maio

último dia do mês

último poema do mês

é estranho poder escolher dizer

que tudo só começou

ou,

simplesmente,

que acabou.