os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

sábado, 29 de agosto de 2009

miniconto sem título 2

Tenho andado muito deitado ultimamente.
Apesar de meus ouvidos sorrirem ao som da chuva, e de minha pele se apaixonar pelo acalento das cobertas mornas, certas consciências que inda não calam a boca não me deixam em paz.
Me pergunto se não é depressão preferir a cama ao convívio social.
E no entanto anseio por músicas e danças, gente pelada e cantoria, exposição e entrega.
Serei eu mesmo este ser que se deprime dançando em sua cama ao som da chuva?
Se bem que são todos eu (como li certa vez num livro com um macaco na capa). E eu sou nenhum.
A chuva aumenta o volume, o coração aumenta o volume, a mão aumenta o volume da escrita: ganhei algumas palavras de presente.
Certas ousadias brincam com o pensamento. Fazendo-o arma, sagrado veneno.
Quando meu pensamento piscina e a chuva enche, saio da cama para nadar.
trens, trovões e gongos.
à minha procura, devo dizer.
ribombam em mim como a chuva.
meu telhado não mais se
esconde, tampouco me esconde
das gotas.
telhas de barro deixam o som
entrar, mas não sair.
som e eu dançamos.
eu sou um tambor ancestral.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

leminski

PRA QUE CARA FEIA?
NA VIDA
NINGUÉM PAGA MEIA.

leminski

não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

leminski

moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

versinho que o fran me ensinou

Bebo
não é por vício
não é por nada
Bebo
pois no fundo desse copo
encontro o retrato da mulher amada
E se não bebo até a última gôta
a desgramada morre afogada.

para não perder o costume (dos escritos madrugadores)

pois eis-me aqui, nu.

já o tempo é, antes de tudo, por si.

carrego algo que não sou possível de conceber.

talvez você esteja certa: eu realmente não tenho controle sobre o que falo.

poeticamente, descubro vãos que nascem em meu coração.

e se já não sou nada além de mim, me resta ser tudo.

essa minha eterna prepotência de nada se diferencia da sua.

porque nós somos o mesmo, só por prazer.

por tesão.

pois desconhecemos o mundo, e o mundo em nós,

ao menor ensejo único, descobrimos.

prazer, eis-me diligência.

já soube sair de mim, só para amar.

mas confunde-me algo:

as fronteiras entre amor e prazer.

e eu já anuncio minhas certezas.

a todo mundo,
e ao blog.

eis-me, certo, acontecido:
eis-me,
só me falta que me vejas.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

caí no mundo como um engano.
um anjo muito burro,
atrapalhado em suas tarefas celestiais,
deixou-me (eu, essa metade de errante esperança)
cair em um pedaço de carne ( hoje esse meu corpo, pela metade)
sem pertenença alguma.

assim despertei-nos a brincar de realidade.

sendo cada um qual de si
escapava à razão a sapiência
de todos os fragmentos que compunham a existência.
Nenhum Visconde Medardo, nenhum canhão único e maniqueísta:
cada um continha em si incontáveis canhões
cada partícula despedaçada,
porém compondo.

Todos derretidos,
vinham sempre, todo todos uns aos outros.
Contudo, o "sermos juntos"
sempre esbarrava num detalhe:
o ser se sê, se sem amento
que tudo tudo
cada qual
seu meio-a-meio.

domingo, 9 de agosto de 2009

das novas postagens

yes.

as direções dos rumos
surpreendem.

a vida,
em seu limite,
surpreende.

o que é o limite
da vida?

a morte?

ou a embriaguez?

agora acho
que ambos.

e então
yes.

no limite da vida,
escrevo um poema
para meus amigos

pois morro
a cada segundo
que vivo

[e estou bêbado, quem diria!

e sendo assim
sou franco:

às vezes viver a poesia
é difícil prá caralho.

mas a gente,
de vez em quando,
equece e tenta.

sem medo de não ser gostado.

ouve o som do ritomo
do coração
e da lua.

e ouve o som
da letra
tecida.

seja virtual,
seja de papel.

é vida.
é o que vale
a pena.

e por ela
embriaguemo-nos.

até amanhã.

[com orgulho da ressaca.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

no albergue

onde vão todos
que, juntos, parecem distanciar-se da luz?
Encerrram-se e padecem
no sabor des-saboroso
de forjar presenças,
o que esconde em desvãos pessoais
a verdadeira distância
que se forja
entre a unidade e a unidade.
Tenho somente o que meu corpo é capaz de carregar;
o que meu pouco dinheiro deseja comprar;
u;m livro com a mente de outrém
(que é inevitavelmente eu);
algo para poder musicar;
um caderno para registro
e uma câmera fotográfica que logo logo perderá o porquê,
pois tenho a formosa certeza
- e regozijo-me com a honra humilde-
de que tudo que importa
é ter olhos e ouvidos atentos
para o que der e vier
entre eu e eu mesmo,
ou em outras palavras,
entre eu e o todo.
E não titubeie em dúvidas: isto indubitavelmente te inclui.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

da forma

em ti sentiste alguma vez
a frágil propensão
que não se compensa, mas compreende
na ausência de forma?

Cabe a mim uma curiosidade:
qual angústia carregas em teu peito?
Eu que em mim nasço e cresço impulso,
já não distinguo as incertezas naturais
do momento que invade o corpo
e arrebata as certezas.

Caí num abismo em mim mesmo,
já não sei saber quem sou,
muito menos quem és.

O único ensejo é nebuloso;
basta-se no confundir que os olhos alheios
brotam nos peitos conhecidos.

Eu já desisti de sonetos,
cabe a mim agora só fetos,
germes de sinceridade que se encontram
em qualquer lugar:
não desejo uma afirmação de minha individualidade;
o que quero é o descompromisso sólido
que consiste a opinião derradeira:
é preciso fazer o que se quer
e o forjar o querer é preciso.

Voo entre velas
e já não sei onde estou.

Por favor,
ajuda-me.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

EM TODOS OS DESTINOS
O DESTINO ÚNICO
É EU MESMO,
OU SEJA,
NÓS.