os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quarta-feira, 16 de maio de 2012

canto em qualquer lugar do mundo

se meu canto não te espanta

não se acanhe, cante junto

terça-feira, 15 de maio de 2012

Carta para Manoel de Barros

Escuto a cor dos peixes.
Essa vegetação de ventos me inclementa.
(Propendo para estúrdio?)
O escuro enfraquece meu olho.
Ó solidão, opulência da alma!
No ermo o silêncio encorpa-se.
A noite me diminui.
Agora biguás prediletam bagres.
Confesso meus bestamentos.
Tenho vanglória de niquices.
.............................
(Dou necedade às palavras?)



- M. de Barros


"Dou necedade às palavras?"

Por dizer de escutar a cor dos peixes, diz-me conseguir captar a vida de suas cores, de seus desenhos brilhantes n'água, e se fazes isso, não importa então qual o sentido - vai além dos olhos a beleza, e em teu caso, chegou aos ouvidos.
Se biguás prediletam bagres, talvez seja por também os escutarem as cores.
Se dás necedade às palavras, não sei, depende. 
Se necedade for despí-las de seus usos robustos e imóveis, que agradam à todos justamente por não dar nada de novo, então sim.
Se necedade for (e talvez seja, meramente, para alguns) empobrecer as palavras, tirar-lhes a força e beleza, então não. Muito pelo contrário.
Dás, num certo sentido, opulência - riqueza, engrandecimento de vida, não frivolidade.
Mais, não sei.
De qualquer maneira, te aplaudo, com meus silêncios.
Nada além
do que nem soube que sou
mas que sempre fui
sem saber que sendo
era um eu leviano
e bom,
por não saber de nada
por não querer ser nada,
e ao mesmo tempo,
por ousar ser tudo.

Hoje me confundo um pouco,
mas também sinto
uma outra importância:
Ser o melhor que posso
para mim e pros outros,
sem querer nada em troca.

Nada em troca.

Não quero nada em troca.


De resto, cuidar
para não queimar na confusão.


Chega uma merda duma idade
em que é praxe querer
sempre algo por outro algo,
mesmo que seja apenas para se sentir bem.

Não funciona,
poesia é antes
mais e menos
- ainda bem.

Sejamos,
sem nunca saber,
mas sentindo que somos.