os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Espontâneo, mas nem tanto

Esta noite
Não vou dormir
Enquanto
Não escrever uma
Poesia.

Que força é essa
Que não me deixa
Terminar o dia?

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O tempo todo vejo matéria poética de todo tipo se revelando diante dos meus olhos e dos outros sentidos e não faço nada só esperando o meu devir poético se manifestar também.

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Hum.. Eu não pedi autorização pra ele, mas acho que vocês devem ler os contos do Tunico. São bons de lascar. É no http://escritosdoacaso.blogspot.com/. Se der deixa o link no corpo do blog, Druschi!

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Os dois textos em itálico eu escrevi ontem a noite. Eles entram parcialmente em choque com o que eu gostaria de propor a vocês, visto que exaltam a espontaneidade da poesia. Quero lançar um desafio e saber se vocês topam: que a gente escreva releituras poéticas de discos que nós todos gostamos. Cada um pegaria algumas músicas, e por fim juntaríamos o álbum mastigado, engolido e vomitado no blog. Ah, os títulos das músicas permanecerão nos poemas. Daí, em torno do que a temática da letra propõe, acontece a viagem à maneira e de acordo com as vivências, experiências, e opiniões de cada um. No caso de músicas instrumentais, vai no feeling!
Acho que propor temas tira parcialmente a espontaneidade, mas também acho que podem e vão sair coisas bem legais dessa proposta, se vocês gostarem. Um porque isso vai incitar a nossa reflexão em torno dessas temáticas que as músicas propõem, e outro porque vai pôr a prova (e aprimorar) a nossa capacidade de discorrer sobre essas diversas temáticas.
Eu pensei em dois álbuns pra começar o desafio. Um deles é o Into the Wild, do Eddie Vedder, obviamente, e o outro é o Dark Side of the Moon, do Pink Floyd.
E aí, o que acham?

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Muma?

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Tô indo pra Corumbá amanhã, compañeros. Deixo vocês com essa pulga atrás da orelha e volto domingo. Hasta!

terça-feira, 28 de abril de 2009

.

mas este ser
que anda pela casa
da braços cruzados
e pés gelados,
este ser
incompleto e nu
por dentro de vestes brancas
anda pela casa como o monstro
anda em seu labirinto.
faminto e entediado.

e desacontecido.
espera a chegada de
alguém impossível.
espera a partida
para um lugar impossível.

ESTE SER NÃO SOU EU.

(continua...)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Kafka

"Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia, cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue. Você muda mais uma vez o seu rumo. A tempestade faz o mesmo e o acompanha. As mudanças se repetem muitas e muitas vezes, como num balé macabro que se dança com a deusa da morte antes do alvorecer. Isso acontece porque a tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo. Algo que existe em seu íntimo. Portanto, o único recurso que lhe resta é se conformar e corajosamente pôr um pé dentro dela, tapar olhos e ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia e atravessá-la passo a passo até emergir do outro lado. É muito provavel que lá dentro não haja sol, nem lua, nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa. O que há são apenas grãos de areia finos e brancos como osso moído dançando vertiginosamente no espaço. Imagine uma tempestade de areia desse jeito."

Nesse exato instante termino a leitura do livro "Kafka à beira mar" do Haruki Murakami.
Sem titubear me tornei para esse espaço que me assegura um canto de alma que desconheço, mas reconheço em prazer e divergencias que fazem parte das consistências da existência.
Enfim, acabo de atravessar uma tempestade de areia, e recomendo a vocês meus bróders essa leitura absolutamente fantástica que é a viagem pelo mundo de um garoto de 15 anos que está à procura de.
"Quando meu décimo quinto aniversário chegar, sairei de minha casa e irei para uma cidade distante e desconhecida, onde vou viver numa pequena biblioteca".
Abraços, Pedruschi.

Procura

Tenho algo a dizer a vocês.
Eu estou à procura
À procura de um mapa
Eu preciso desse mapa
Mas no escuro sei
Que essa mapa não existe
Em si como mapa
Ele existe como corvo
E eu preciso achar um corvo
Um corvo que no torpor eu sei
Não existe em si
Como corvo
Existe como caminho
Que eu vou trilhar
No mapa incerto que distingue
Um mundo sem cor e sem ar
Que sou eu.
Um mapa um corvo um caminho.
Um dia vou me achar.

Miniconto sem título.

O parco barulho de um carro que passa não oculta o click do grilo e do relógio.
Migalhas de músicas que um dia eu ouvi não mais alimentam meu sentimento.
Meus pés nunca me pareceram tão distantes, mas eu ainda consigo enxergar além.
E o que vejo é um meio rosto que também me vê, estampado num espelho esquecido na sombra.
Por ora não quero ser nada além de um silêncio que respira, pausa de semibreve na colcheia da vida.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Nossa Santíssima Trindade

Enivrez-vous

Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

Embriague-se

É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".

Charles Baudelaire (Trad. Jorge Pontual)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Primeiro parecer

Aos amigos:

"Eu bradei: viva a amizade! e eles me acompanharam.
Eles bradaram: viva a poesia! e eu os acompanhei."

Ao blog:

Falsas distâncias

Que este seja o espaço de toda a expressão,
Seja prosa poesia diversão,
Seja debate filosofia crônica digressão,
Métrica livre verso decassílabo,
Desde que venha, isso em caráter afimativo e irrevogável, a encurtar estas falsas distâncias.

Distâncias criadas
Por um mundo que une e separa sem espaço para choro, nem vela.
Joga um aqui, outro acolá,
Até morando na mesma cidade!

Que este seja, portanto, o encontro,
Mas sem substituir o encontro.
Que este seja o encontro casual!
Mas que seja também o encontro certo, no limiar entre a realidade e o mundo das idéias.

Que seja também o espaço das citações, trechos, epígrafes, paráfrases,
Das propostas, dos desafios poéticos ou não, da palavra coletiva,
Das indicações de discos, filmes, livros,
E de tudo que nos sempre nos uniu, e nos unirá.
Que seja bem-humorado!
E acima de tudo, que seja LIVRE.

Livre de preocupações, perturbações,
Dos excessos de nossas rotinas,
Dos nossos desgastes físicos e mentais,
Sentimentos mesquinhos,
Livre da sociedade em que somos números, máquinas, consumidores e contribuintes,
Das pessoas que não sabem sonhar
E que não deixam os outros sonharem,
Livre, pra ser o que quiser, sem nenhum empecilho.

Nessa utopia errante,
Quem for amigo, pode chegar.
Pois os momentos despendidos aqui
São de reconciliação com a vida.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Uma poesia minha para meus amigos...

Em uma amizade de poesia
nem por piedade conto os anos,
mas os dias.

Mesmo que tardia
a emoção que outrora
de nossos peitos universos fazia
Em verso; em prosa
Revivia.

Dos sentimentos;
Falta agora em nós um sopro de vida;
angústia nascida no peito.
Final de árvore em luto mórbido.

Juntos podemos tudo.
Juntos podemos conquistar o mundo.
Sobretudo o verso anti-sintético
que nasce e cresce na brisa de tromba de elefante.

Eu nasci e morro agora
com vocês.
Poucas palavras me suicidam...
E eu faço questão de escrevê-las.