os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Poemanagrama

Que falta faz um companheiro!

Merda.

Que vontade de fumar um paieiro...


Nu

Champagne

Vela

Foz...

Mad.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Solidão inerte e caseira em Campo Grande

A cabeça descansa verdadeiramente
deitada em nuvem
A erva-mate gelada no copo
refresca genuinamente
A canção do sal na vitrola
emociona, tamanha é a pureza.

Uma misto de sonolência
com satisfação...

O barulho do ventilador e os piados ocasianos
completam a paisagem sensorial
oferecida por minhas pupilas cerradas
e o torpor do verão no cerrado.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Às vezes

Às vezes

Às vezes quando algum pássaro chama
ou entre os ramos algum vento sopra
ou nalgum pátio longe ladra um cão
por longo tempo eu escuto e me calo.

Minha alma voa para o passado,
para onde, há mil anos esquecidos,
o pássaro e o vento que soprava
mais pareciam meus irmãos e eu.

Minha alma faz-se uma árvore,
um animal, um tecido de nuvens...
Transfigurada e estranha volta a mim
e me interroga.

Que resposta lhe darei?



H. Hesse,
em
Andares.
face a face com o derradeiro
com o estrangeiro que mora dentro do peito
estranho sujeito sem decência
que precisa existir mesmo sem eu querer ter consciência;

pois se em meu corpo apenas eu me acontecesse
não teria como afirmar
que exista um tal sujeito:
eu.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

pisa com cuidado
toma cuidado com o calcanhar
que com seu som grave no assoalho avisa em que direção vais

toma cuidado com o caminhar
percorre o caminho com silêncio
e decide

se queres a graça ou a desgraça
se esgarças tuas penitências
ou se alimenta os cães de teus escuros.

mas se não podes ter cuidado, não esqueça:
pisa.
mas pisa com toda tua força
e cria ruínas.

domingo, 31 de julho de 2011

permitam-me a dor.

todo, o corpo em cacos
despedaçado. vidro de automóvel
que tombado
tombou sem vida o corpo jovem

imóvel todo cheio de estilhaços tudo

não como o silêncio.

muito menos o total, das velas e do branco.

vale a pena o travo triste da vida, que sem escrúpulos de tempo fez-se perder um irmão?
vale.
sempre vale, bradou-me um amigo que a vida tirou por vontade.

não é o caso agora. hoje descubro o que não vale.
não vale o gosto esta fumaça
este cheiro de desgraça e velocidade
gostos embotados cheios de nada
gotas de asco
cidades mais podres que aquelas bananas
velhas bananas da varanda.
indigestas travessias, de pedestres,
esmagadas
por automóveis pilotados por vermes
que esse mundo incerto nos préstimos e certeiro nos empréstimos
insiste em aceitar na direção.

Só um verme pode tirar a vida de alguém.

Permitam-me a lágrima.

Pelo amigo de meus amigos assassinado semana passada.

Permitam-me uma, ao menos uma lágrima.

Molhada, jogada ao vento. UMA LÁGRIMA!
Nesta porra desta cidade suja...
uma lágrima para limpar o sangue
para limpar a tristeza
para limpar o esquecimento
para limpar tudo, menos a consciência.

Lágrima acolhedora, nascida do peito e caída
nos verdugos do quintal. lágrima que quer pousar onde talvez
um passarinho tenha pousado hora atrás
quiça o olhar atento à poesia, ou o suspiro da amante.

só pra ver se de todo esse lixo, dessa favela tecnológica passada, insisto, como as bananas podres,
como os vermes das bananas,
metal podre
esse plástico grotesco
fumaça de isopor queimado à base de querosene
o toque das teclas que esquece o toque no corpo
os números e as codificações que não olham na cara da figura
(porque não tem olhos: tem câmeras)
se do alto dessa ausência de humano...
pra ver... se resta alguma possibilidade de abrir um sorriso e dizer:

caralho, tem saída essa porra desse lugar que vivemos.

Senão, bixo...
eu prefiro engolir minha lágrima e sair daqui.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Comentário para a sugestão (por que simplesmente o meu computador não me deixou comentar direto na postagem)

Gosto da idéia de nos propor um intervalo, uma pausa para ver se recomeçamos, ou se coisas novas inauguramos.




Para mim o blog nunca foi um projeto, algo que deveria ser outro algo, ou que viria a ser outro algo. Para mim, o blog sempre foi uma possibilidade de extensão do que vivemos juntos na Roda Literária e, mais tarde, no MuPeJo. Uma extensão dessa pegada fibra de rolê firmeza, sem ter que ser nada. Claro que dentro disso haviam projetos, como o Into The Wild, ou o dos Dias Escritos, ou o do Centésimo. Mas, a meu ver, eram idéias dentro de uma idéia maior - que era aberta, sem ter que ser nada que não o que somos.

Esse é o meu maior entendimento do blog: ele é o que somos juntos.

Com relação ao projeto de fazer um livro do blog, com a idéia de escrever o Centésimo para celebrar, devo confessar que me intimidei. Não sei explicar o porquê, mas travei, não consegui escrever nada que fosse digno de um evento desses. Acho que ainda pior do que travar (porque todo mundo trava), foi que eu não consegui reconhecer que estava travado, e então escrevi somente coisas ralas, na ânsia de satisfazer as expectativas minhas e de vocês. Expectativas que talvez nem existissem de verdade em vocês, mas que eu acabava alimentando em mim e me cobrando em cima delas. Talvez seja tudo uma questão de orgulho. Não sei. Mas acabou que o livro do blog engavetou-se, e foi ficando tudo silencioso. Não sei se falo só por mim, no final das contas, mas acho que pecamos em não conseguir jogar um pouco mais aberto, e se haviam de fato expectativas e cobranças, escancará-las, para poder trabalhá-las entre nós, numa boa. Como os amigos que sempre fomos.

Eu me lembro de quando começamos o blog e o Muma simplesmente sumiu do mapa. Não deu nem um recadinho pra nós falando que não queria participar. Isso foi foda, e ele vacilou mesmo. Mas nós também colhemos o que plantamos com uma espécie de empolgação pouco acolhedora, que não parou pra pensar que se pá o Muma podia não querer participar do rolê - o que é um direito dele. Esse tipo de coisa gera umas mágoas fodidas, por não se propôr esclarecer as coisas de alguma forma.

Não sei mais o que escrever, mas enfim... É nóis. Foi tudo minha opinião, e vamos falando, vamos nos falando. O que temos juntos já estabelecido é muito precioso para deixar virar uma louça suja ou uma planta seca - com isso eu concordo e muito. Não vamos deixar a casa feder além do necesário para chamar a atenção de todos para a limpeza. Para tanto, vamos falando, vamos falando...

Abraço!

Jony.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sugestão

Outro dia encontrei um projeto de livro.

Guardado bem dentro do meu HD.

Pra começar uma resposta, tenho uma sugestão:

Não gosto de ter janelas entreabertas na vida. Ou então janelas com mil possibilidades não aproveitadas. Prefiro aceitar e fechá-las, para poder arejar minha cabeça que sempre precisa ver as coisas nos seus lugares, espécie de feng-shui mental. Não gosto de louça suja, de casa desarrumada, jardim com plantas secas... não gosto de ter um blog sem tê-lo.

Prefiro que fechemos o blog para que possamos ver outras possibilidades. Quem sabe levamos a cabo o projeto de livro um dia, ele está muito belo. Quem sabe reabrimos o blog um dia, ele está muito belo. Quem sabe nos reunimos numa noite cheia de velas e lemos tudo um dia, seria muito belo. Quem sabe abrimos outro canal de conexão, ele seria muito belo.

Eu tenho confiança nisso.

Mas não confio num projeto (sempre também assim vi o ventogeral) no qual ninguém se debruça sobre ele.

Sugiro o fim do falsas distâncias.

Gostaria de ler opiniões.




"Quando o sol bate na cara e ofusca
é difícil saber se vemos menos ou mais.
Se for quentinho já está valendo."

sexta-feira, 10 de junho de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

propaganda

Senti a necessidade de fazer um blog meu.
Talvez para concentrar mais minha poesia, estimulá-la dentro de mim e comigo mesmo.
Talvez por achar que ela estava quieta demais.
Não sei bem.
Mas fiz um blog meu.
Caminha junto, como bem sabemos.

Eis:

www.axungula.blogspot.com

Grande abraço falso-distanciado,
Jony.

poemas achados num caderno antigo (que me ajudaram pra caralho hoje)

"Da primeira noite fria do ano" (2009)

Venha comer
de minha carne
assada com vela,
meu amigo,
venha beber
de meu vinho.

Brindemos à
vida, nós
que estamos
para morrer,

nos saudamos.

E enquanto
as chamas
se apagam,
nós cantamos.

*

"de palavras careço
  e este é só o começo"  (2009)

Sem proclamar nada, apenas
clamo para mim e pro mundo
que hei de, dedicado, viver
à minha santíssima trindade.

O vinho que outrora sorvi
de taça parecida com crânio
hoje é o que me faz sentir
a rotação do planeta.

A poesia que emana de nossas
mãos (minhas e de meus
irmãos) é a que faz
com que a vida baile no papel.

E a virtude que hoje me
acompanha é a mesma
que percorre a estrada
e que canta - coragem
e sorriso de criança.

Hoje clamo:
Vêm comigo!

se quiserdes viver uma vida
de puesia
e ter um novo amigo.

*

"Se os reis se virassem de cabeça para baixo, as coroas seriam seus sapatos e os sapatos coroas."
-Mikhail Naimy, filósofo libanês

sexta-feira, 15 de abril de 2011

o quanto uma pessoa
é capaz de fazer sofrer
outra pessoa
é o que me põe em dúvida
a inexistência
de Deus.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O que sou agora ultrapassa
indubitavelmente
minha própria compreensão.

Por isso faço com os outros
um tratado de compreensão mútua
de compartilhamento desavergonhado da alma
para que assim possamos
sentados
calmos
conversar sobre a vida.

É esse
aliás
o meu atual passatempo predileto
nas horas ociosas.
Viver
somente
não me basta mais.
Viver
somente
não me faz compreender.

Creio que essa inquieteção por tentar entender
seja na minha vida a proa
que apontará sempre para a eternidade
ganhando milhas e milhas náuticas
sem nunca jamais atracar.

Torço para que nunca chegue à uma conclusão exata
do que eu sou
do que eles e elas são
do que você é.
Viver nunca será entediante.

caralho, era exatamente esse o poema que eu queria escrever agora.

segunda-feira, 14 de março de 2011

14/03

Não é somente mais um dia

ele transpira e espirra
signos tangíveis
significações intangíveis.

Terco,
socavo intermináveis desiluminuras
busco ares e criaturas transfiguráveis

Transfixo em seixos que são peitos
cravos tristes de camelos
alegres areias ventaniadas pelo nada

farinha pouca
pirão pouco
peixe pouco

escrever é cozinhar numa cozinha pobre em mantimentos
pouco basta para não morrer de fome
ou para ser gourmet por uma noite

Não, de hoje não passa essa inútil ausência do poema na minha vida:

dia quatorze de março, dia nacional da poesia.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pérola

graças a deus eu não sou deus

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

-Diálogo entre as faltas ocidentais e a sabedoria oriental-

 -Tal-San, where is the TAO?

- Don't worry, 


all the

TAO

is in your

quintal.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

para as memórias de quem nada

penso:

sê um ser
com a arrebentação.
de nada adianta
sacudir o timão
pra lá
pra cá
degladiar-se
com água
pra todo lado.

sê um ser
com a arrebatação
que a vida,
em ondas,
traz à nossos corpos
sem prévio aviso.

quem se opõe
arrasta mundos,
e esse é um peso
indiscutível.
sê um ser.
pois mesmo
sem remos,
molhado
há um sorriso.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Canto de agradecimento aos recentes comentários no blog

Vejamos bem:

quando nasce um poema é como se nascesse sopro.
sopro que esvoaça a pluma da esperança

e a tira do estático
e a faz dançar

dançar com todas as sutilezas que só uma pena pode ter.

mas parto nunca foi coisa simples
por isso arranca de nossas bocas sorrisos,
e das cabeças, mais esperanças para serem sopradas.

para ascender vela basta uma pequena chama; depois de acesa
é só brincar de espalhar cera pela vida.

Obrigado pelas faíscas,
eu que agradeço.

Beijos ou abraços,

Bruschi.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Arte é contemplação.

Contemplar algo frente à tela em uma sala fechada é ausência.

Ausência é o fim do deslumbramento.

Só as drogas podem salvar as cidades.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"Tempo, te dou memória de ti mesmo
pela mão do meu ser. Eu te dou tempo,
esta a tua verdade, eu que te invento
e te permito doer - e tu me mordes
e degradas o sol das minhas pálpebras
e me instigas feiuras escondidas
e esgarças a espessura do meu sono,
mas me vingo de ti, e quase te amo
porque nunca me gastas a esperança."

Thiago de Mello

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

NOVA POSTAGEM

novo nada tenho

todo sou arremedo interno
sem medo doquevinha doqueé doqueserá

intermezzo externo.

cada passo é eterno:

presente existe

passado sombra

futuro quem dirá.

cada qual com sua sacola
carrega o que pode; o sol de cada um brilha
giracantaereluz como um ponto
no ano-luz
que cala nas bocas errantes.

meu nome é adivinhação:
boa sorte.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Não, pequena,
tu não existes.
Quem sabe assim,
                           longe de mim,
pareças uma flor, um pássaro.

Mas tudo te reduz
perante os frenesis
que tua ausência faz nascer
em meu canto.

Ausência tua
ou de vôo que invento?

Não, pequena,
não te importes.

É belo por si
esse transis que,
se não arremedo,
ao menos desejo.

Ele reluz como um parênteses
(vazio)
e enche de ar um texto (DENSO) que não consegue se dar ao luxo,
sequer,
de vírgulas.

Me aduzes
e não saio de minhas cobertas.
Talvez a memória seja mesmo uma manta que aquece
e faz as células se re-inventarem.

Caminho nas bordas do mundo,
em um instante vou
do fundo à tona
da tona ao fundo.

Te ter,
mesmo não te tendo,
são pontes-pênsis moles
instáveis e belas
sobre o oceano das idéias.

No meio do caminho me perco
e, te encontrando vejo,
nas estranhezas humanas,
um oásis.
De escrever só tenho um medo:

é o saber que poderia ter transformado em palavras mais belas
a argila de meus sonhos.