os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

do filme: o demônio das onze horas - godard

Ela foi reencontrada!
O quê? -A eternidade.
É o mar misturado
ao sol.
-Rimbaud

sábado, 24 de outubro de 2009

fluência onírica

no meio do meu almoço
comecei a amarrar
um grão de arroz no outro
com um barbante

ao final joguei tudo
pela janela
e aquele negócio
virou um pássaro
branco
lindo
que voou pelo céu
da cidade
fechou um boeing
que o xingou
e foi ao mercado municipal
comprar frutas fresquinhas
que ele trouxe
pra eu comer depois
do almoço.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

outra resposta à MEMÓRIAS

Se for sincero comigo mesmo tenho que reconhecer que minha memória é um tanto quanto falha, talvez seletiva. Pouco lembro de minha infância, assisto todos que contam detalhes, feitos infantis e fico maravilhado com essa possibilidade de reconhecer essa base formativa do pensamento, da personalidade que a mim se mantém guardada em segredo. E, para falar a verdade, não tenho intenção de descobrir nada, "as coisas que aconteçam a seu gosto, em meu desgosto hei de fronteá-las".
Contudo sei claramente o momento em que me tornei um ser desses que necessita da escrita para sobreviver no mundo, sei o espaço e as pessoas envolvidas. Este espaço chama-se colégio, no meio das afrontas, dos descobrimentos, das indignações, dos grandes mestres que sutilmente modificaram o rumo de tudo na minha vida, das amizades, dos desafios de construir algo diferente, pois sempre fui perturbado pelas possibilidades do mundo, e dos amores.
Ah, os amores...
Já disseram, acho que Maria Quintana (arrisquei, não me lembro direito), "todos os poemas são de amor". Não sei, mas que as mulheres são culpadas por quase tudo que escrevi se forem estabelecidas relações aparentemente absurdas e distantes, mas que são verdade, são.
E eu gosto disso. Sinto-me como um cavaleiro, pessoa principal, de valor e que valoriza, principalmente. Um trecho de Dom Quixote: "tirar a um cavaleiro andante a sua dama é tirar-lhe os olhos com que vê e o sol com que se alumia e o alimento com que se sustenta. Muitas vezes o tenho dito, e agora torno-o a dizer, que um cavaleiro andante sem dama é como a árvore sem folhas, o edifício sem cimento e a sombra sem copo que a produza."
Na alegria e no sofrimento sou parceiro quase incansável da poesia, meu único inimigo se chama desânimo. Escrevo para tomar conhecimento e consciência de tudo, bem como para esquecer e destruir tudo que se estrutura.
Atualmente o blog tem sido ótima ferramenta... ele me dá ânimo de escrever, de mostrar para vocês o que escrevo.
Por enquanto é só, pedruschi pedro bruschi.

Sobre a escrita

escrever não escrevo
é consequência de algo que me atino
algo que mora no peito agitado
que é saber que estou vivo

escrever me escrevo
desde sempre com orgulho
todavia reconheçoum instante claro
momento indubtavelmente raro
em que meu pulso desobriu o ensejo poético

desde então infinitamente corro
volteio o mundo
morro morro morro
e aquilo indelével em mim procuro
através do corpo em que me perco

em mim não existo
parafraseando thiago de mello
só sou quando em verso

e talvez mesmo o inverso
de não ser e saber nada com este falatório
mesmo que néscio
perpetuo indizíveis brados
que percorrem tua alma no silêncio
sou eterno.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como nossos pais

Ainda há pouco fiquei indignado ao ouvir na rádio uma inusitada sequência de músicas: primeiro tocou uma versão ao vivo da Elis Regina cantando "Como Nossos Pais", e depois rolou um Natiruts das antigas (Beija-Flôô, que trouxe meu amôô, vuô e foi emboraa). Pensei: "Porra, qual é o critério dessa merda de rádio?" (mesmo sabendo que o critério da rádio é tocar QUALQUER música que seja cantada em português do Brasil).

Seguindo a reflexão proposta pela letra da música, percebi como parte dessa minha indignação vêm de um saudosismo meio totalitário ("nossos ídolos ainda são os mesmos" (...) "você diz que depois deles não apareceu mais ninguém"), que quer fechar os olhos para um mundo que é extremamente dinâmico e uma vida totalmente diferente daquela de 30, 40 anos atrás. A outra parte da indignação é, claro, a necessidade de sentir que existe algum critério mais ativo na programação da rádio, coisa que às vezes faz com que eu me sinta um ouvinte absolutamente passivo e sem vontades. Me pego ouvindo músicas que eu realmente desgosto. No caso supracitado, simplesmente mudei de rádio e dei sorte de pegar um Ed Motta na outra. Além de tudo, é claro que o fato de estar tocando Natiruts (com todo o respeito à banda e a quem gosta) não ajudou.

O mundo é outro, a vida é outra, a arte é outra. "Mas é você que ama o passado e que não vê/Que o novo sempre vem" brada Elis Regina. É claro que a veemência da letra se coloca diante de uma situação de completa estagnação e cego saudosismo. O passado não é assim todo tão ruim. Mas não fechemos os olhos para o presente. A arte está em plena efervescência, de maneira mais ou menos crítica, como sempre foi, mas sempre se revolucionando em termos de linguagem e na maneira como vê o mundo. A filosofia, ciências humanas e sociais também não cessaram nos clássicos.

Evidentemente que, diante das últimas revoluções tecnológicas, hoje é muito mais fácil se perder no oceano de informações desencontradas e das produções sem a menor preocupação com a qualidade. Qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa, inclusive escrever um texto supostamente reflexivo como este, cujo autor não tem nenhum histórico de produção deste tipo de texto e sequer um diploma na área de jornalismo. Qualquer um pode fazer uma banda, dizer que é músico, que é poeta, que é pintor, tem pra todos os gostos. Acho ótima essa democratização, essa desburocratização da arte e da comunicação em geral (apesar de reconhecer que há algo extremamente pernicioso nisso tudo). Acho bom também que as pessoas se sintam bem fazendo algo que lhes faça bem, mesmo que elas não façam esse algo tão bem.

Mas vamos separar uma coisa da outra: no meio de tanta produção, qual é a que se preocupa com a linguagem e com a estética? Qual é a que realmente se preocupa em estimular a reflexão sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos cerca? E finalmente, qual é a que procura dialogar conosco sem subestimar a nossa inteligência? Existem critérios objetivos e fáceis de se enxergar para que possamos selecionar ativamente aquilo que escolheremos para ouvir, para ler, para apreciar, para assistir.

Deixo o link da letra do Belchior para terminar o ensejo reflexivo:



domingo, 18 de outubro de 2009

Memórias

Uma proposta para movimentar o blog, e principalmente a mim mesmo (hehehe): vocês lembram como foram os seus primeiros passos no campo das belas-letras? As primeiras coisas que escreveram para outras pessoas lerem? Não precisam ser exatamente as primeiras coisas, mas aquelas que constituem marcos, que vocês lembram com carinho e se orgulham, de certo modo. Um recorte seletivo das nossas primeiras memórias literárias produtivas! Lembrando sempre que pode vir em forma de prosa, poesia, ou o que quer que seja. Aqui vai o meu texto:

Hum, a primeira coisa que me lembro (seletivamente, hahaha) de ter escrito foi uma carta, na quarta série, juntamente com o meu amigo Lucas - que mais tarde viria a se tornar Peska -, endereçada ao então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Nada pretensiosa, a carta começava com “Excelentíssimo Senhor Presidente da República”, reivindicava o fim do preconceito e levava em anexo um significativo abaixo-assinado com as assinaturas de alguns alunos do Colégio São Domingos (o que, para efeito de reivindicação, deveria representar 0,0000000000000000000000000000000000000001% da população nacional).

Depois disso, me lembro dos problemas de matemática da quinta série. A professora Estér, que não deixava ninguém usar boné na aula dela, mandava a gente elaborar uns problemas na aula ou de lição de casa para testar a nossa capacidade lógica. Eu e o Henrique inventamos um personagem que sempre aparecia nos nossos problemas: o Clodoaldo. O Clodoaldo era um matador de aluguel, que na verdade tava mais pra um assassino de massas do que para um serial-killer ou algo do tipo. Os problemas era mais ou menos assim:

“Clodoaldo mata 6000 pessoas por dia. Em um mês, quantas pessoas Clodoaldo terá matado?”.
Hahaha, o cara era um absurdo.

Ainda na quinta série, teve um concurso de poesias no colégio, acho que foi o primeiro evento LER (para quem não sabe/lembra, Leitura Emoção Rara. Óbvio que inventaram a sigla antes de darem significado à ela) que teve. O LER era um evento que aconteceu em quase todos os anos que eu estudei no São Domingos. Era um sábado, em que haviam vários acontecimentos literários: venda de livros, saraus e, é claro, concurso de poesia.

Se eu não me engano participei de todos os LERs que rolaram enquanto estava no Colégio. Ou escrevendo, ou declamando. Os meus primeiros flertes com poesia estão diretamente relacionados com esses eventos. E a primeira poesia que eu escrevi na minha vida foi uma chamada “A viola”, na quinta série. Era aquela poesia de quem já viu, mas nunca escreveu uma poesia. Tentava ser uma coisa bem adulta, bem rimadinha, mas lendo hoje, fica visível que foi uma criança que escreveu. Racho o bico de lembrar quando uma professora me tirou da aula (de matemática, acho) para me perguntar se havia sido eu mesmo que tinha escrito o poema. Hahaha!

“A viola” ganhou um prêmio de melhor poesia de não sei o quê. Da quinta A, ou da quinta série. O que me fez achar que, se eu continuasse escrevendo uma poesia por ano (a cada evento), poderia virar poeta. Passei um ano inteirinho ser escrever outra poesia e escrevi “Elefante” na véspera de outro evento LER. E ganhei de novo! Na sétima série o esquema não deu mais certo, e eu perdi. Isso me fez desistir de escrever poesia, e eu passei a declamar. Mas que mal perdedor, né?

Paralelamente a isso, escrevia textos em prosa para as aulas de português. Sozinho mesmo, ou em dupla com o Deco (“As aventuras de Akiko” e “Karabashi, o esquimó do Saara”). E continuei assim, gostando bastante de ler e de escrever, mas só lendo e escrevendo quando era obrigado.

Essa relação com a literatura se prolongou pelo resto do colégio, com algumas exceções muito pontuais, como a Roda Literária. A mudança aconteceu, e ainda está acontecendo, nos últimos anos com a minha mudança para Campo Grande. Mas isso é assunto para uma próxima vez, pois acho que extrapolaria o tema proposto.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

poema de parabéns para o jony

O OLHAR - Manoel de Barros


Ele era um andarilho.
Ele tinha um olhar cheio de sol
de águas
de árvores
de aves.
Ao passar pela Aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava sua vida.