os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

sábado, 31 de julho de 2010

O Rompimento do Silêncio

QUEM SOU? EU?

Eis que me deparo
mais uma vez
de muitas vezes mais
com esta casa que me habita.

E minhas paredes são tortas,
meus alicerces são vesgos.
Por mais que caminhe reto,
meus caminhos nunca
são os mesmos.

Me canso de querer
saber por quês.

E quando me esqueço
que estou cansado,
começo a escrever.

Pois até o ar
me grita:
Escreva!
E eu, sem quando nem onde,
escrevo.

Antes disso,
antes daquilo,
antes de eu
e docê,

algo em mim
que so escreve
baila, celebra,
e sua celebração
é chute na canela,
é cheiro de alecrim,
é estalada de vara
em onça curta.

Sem tirar nem pôr,
tudo isso é minha casa.
Esta selva,
meu aconhchego,
minha escrita.

Quero mais é madrugada,
pois ela sabe a verdade
que eu tanto nego:
Jony,
Você não tem par neste mundo.
Você está sozinho.
assim deve ficar.
e assim deve escrever.

Escreve,
Jony,
pra que só eu possa ler.


*

POEMAS MATINAIS (DE MAIO)

13/05

o despertador ofende-me
profundamente:
arranca-me de um sonho
incalculavelmente belo
com a vizinha
incalculavelmente linda
incalculavelmente nua
incalculavelmente minha.

14/05

me coço, me estico,
dou grito.
o mundo se resume
em colchão e edredon quentinho,
prestes a sucumbir
ao despertadir que toca,
ao frio que
de repente invade a casa
e grita:
LEVANTA!

e no meu máximo
de raciocínio, rapidez
e coragem
respondo com um grunhido.



POEMAS DE JULHO

1º de Julho
"Malditas tarefas domésticas"

Estava lavando a louça
e pensei num poema.
Terminei de lavar alouça
e esqueci meu poema.

fico pensando
por onde ele anda
agora que o esqueci.

Não me arrependo
de tê-lo esquecido,
apenas me consumo
na curiosa saudade
do poema que eu não escrevi.

2 de Julho

"poema sem orgulho do dia anterior"

Tomo um gole
do meu chá frio de gengibre,
e constranjo-me:
Hoje já é 3 de julho,
e não escrevi nenhum poema
ontem.

a vida, pois,
tem dessa coisas.

10 de Julho

Porém,
não desisto.

Há que dar-se um jeito nisso.

Acordo de uma semana sem poesias,
me espreguiço nas palavras,
e escrevo:

apesar do silêncio,
apesar da apatia,
apesar dos tremores,
apesar dos amores,
apesar do sono,
apesarde tudo ser pouco,

eu posso ser muito.

*

Há que bater mais forte
o tambor de meu peito.

Primeiro com raiva,
depois com deleite.

Tornarei-me quem quer que eu seja.
O mundo que me aceite.

*


aos amigos viventes das falsas distâncias:
esta é uma postagem multifacetada.
encerram-se nela muitos poemas, muitos cacos, muitas aberturas...
e uma fechadura.

eis aqui meu término do que comecei lá embaixo.
sempre, com toda a sinceridade. talvez, inclusive, falando da dificuldade de existir ante o sono que o mundo ás vezes dá.

eis-nos aqui.


CENTÉSIMA MILHA

Meus olhos estão
pretos e fundos.
coçam como se
nunca tivessem
visto montanhas,
mares, ilhas.

Meus olhos doem
como se nunca
houvessem lido
poesia.

Cansado escrevo.
e sei da responsa
que é viver
este momento.

A caneta no papel
exprime e espreme
cada gota de anestesia
que minha vida me deu.

Hoje percorro
meu rumo
com meu coração
inteiro.

Na palavra
que se faz
mesmo que escondida
num caderno vermelho,
hoje sou um pouco
mais verdadeiro,
e me lembro de canções
que um dia cantei.

Hoje eu desafio o mundo
sem sair de minha casa.
Hoje eu sou um homem
mais sincero e mais justo
comigo.

Ainda que,
além dos olhos,
possa todo o corpo doer,
todo o corpo grita.

Hoje,
faço-nos poesia
de carne e osso.

Muito já caminhamos.
Muito ainda vamos
caminhar.
Mas de nada vale
uma centena de passos
sem poder cantar.

E por isso
tenho hoje a certeza
de uma centena de milhas
percorridas com poesia.

(termino este post com um misterioso adeus, pios já estou morrendo de sono.)
-o pior é que ainda falta coisa...

Um comentário:

  1. Silêncio é como o nada:

    perdura

    perdura

    mas está muito cheio de palavras:

    o silêncio
    é o único
    que nunca
    se cala.

    ResponderExcluir