os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

domingo, 17 de fevereiro de 2013

fragmentos

redesafinando sóis
longilíneas linhas
incompatíveis desejos
sois nadas
caminhos 
devires 
conjecturas
calientes
sombrias serenatas ao meio dia
sem sóis
som sem


pãosdeló





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outrora o tempo me avisou
sim, eu sou sem forma
amorfo
sem vez
se assim é
o ser
para ser





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O delírio e a desgraça de se conhecer alguém é que a partir de poucas palavras escutadas se engendram no pensamento inúmeras sentenças que são além de imaginação, que constroem a realidade e se divertem com o pouco conhecimento de mundo de nós.




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Já dizia o sábio chinês:

de noite cachaça
de dia linhaça






"SONO TABS"



desperto
dispersa pensamentos
dispara inquietudes
maneja a argila de sonhos
da matéria bruta
sua beleza escuta
e amassa
com suas próprias mãos 
a realidade
seus afetos
suas indisciplinas
clama sua responsabilidade
sobre o imprevisível
falha
de sua boca brotam tristezas úmidas
quase engasga com tudo que perde
seus poros se abrem
agora é todo ventosas
tentáculos que alicerçam
que absorvem
que chupam
que se banham
em chamas
em angústias
quer dar forma às coisas
sem deixar que se apodreçam
os usos
canta desvarios
e eles pulam pelo mundo
como um bando de macacos recém-nascidos
sempre em bando
os desvarios
desacata suas próprias leis
e sofre
por destruir suas próprias obras
caminha por florestas úmidas
colhe das árvores absurdos
e se banha com o óleo viscoso
que regurgita com seus arrependimentos
inventa admirações e desprezos
deseja sentimentos
planta todos restos
todo o lixo para dentro de casa
todos os nojos pra o corpo
guarda inutilidades
tem carinho por absurdos
caberia o mundo em seu armário
se o mundo se deixasse caber
no seu armário
ou se não existisse armário
nunca seleciona as sementes
todas estão no armário
é só abrir a gaveta e de lá transbordam
oceanos de lama
no qual se banha
se lama
sê lama
se ama
pinta seus alvos dentes com a lama fria
e sente prazer nisso
e sente desprazer nisso
destoa
acaricia a longa barba
de sua mulher
e descobre
ama ser desprezado
enfia seu focinho no travesseiro
germina lágrimas como num mudário
cada muda de mudez
espera
tem espera
tem esperança
torna visível o que não diz
constrói
tece com longas agulhas dolorosas
seus pensamentos
e eles tomam forma
mói a teia e passa
na cafeteira
acredita que seu sonho despertara
e faz
cafés cafés cafés cafés
cafés cafés cafés cafés
cafés cafés cafés cafés
cafés cafés cafés cafés
cafés cafés cafés cafés
cafés cafés cafés cafés
até que o café deixe de ser café
e se torne qualquer coisa
nova
faz o mesmo com cafunés e outros
detalhes
guarda todo seu passado num potinho
-o menor possível deles-
e solta em alto mar
esvazia uma cápsula e nela insere
tudo o que não inventou
toma antes de dormir.

Sono Tabs.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

caminhava sobre o lodo
ruminava sobre o todo
que seu estômago englutia

tinha imensidões sobre o papel
e tentava inutilmente
desmentir suas desverdades
nos limites imperdoáveis do branco

tropeça, quase cai,
de boca toca a lama, toma cores,
deságua e leva vela derretida
multifacetada
o chão lhe pergunta:

que te carrega?

ao que responde:

a solidão é a espinha dorsal da abstração humana.

e o chão:

ossos, cartilagens, medulas, nervos, isso não são abstrações, isso são tal o tao.

e o homem:

tens razão, mas qual o uso de tudo isso? com isso se dança, sómente se dança, nada mais, e dança é abstração.

e o chão:

dança não é abstração.

e o corpo:

corpo é abstração.

e o poema:

calma lá, você não pode sair assim sem mais nem menos assustando todo mundo que cruza teu caminho.

e a poesia:

pode.