os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Depoimento do poeta meditante

Concordo.
Mas apesar de consentir,
não calo.

Ausência de certezas,
Ausência de portos-seguros,
sim.
Nada de novo no front.

Agora,
na ausência de palavras noite adentro,
de deslumbramento,
na ausência de virtude,
e de vinho,
meu amigo...
És presunçoso
por achar que estás
sozinho.

Quanto à ausência de Sidarta e de Pema,
te digo:
levo-os sempre comigo.
Ainda que doente,
meu peito os leva contente
e em segredo,
sem nenhum traço de medo
ou sigilo
[com relação à eles meu peito está tranquilo.

Porém, quando leio
que falta lida com a escuridão da vida,
meu peito se estremece:
tome cuidado com a palavra
que tece,
pois és sabido o bastante
pra saber que não é verdade.

Meu silêncio
nunca foi tanto
este embate no escuro
quanto agora.
E por isso,
pra humanidade eu digo:
Xóra.

Nunca quis ser reflexo de nada
além de mim mesmo,
[quiçá dos que vão comigo.
Por isso caminho na caverna
de meu umbigo
para ver se acho um novo corpo,
ou novos corpos,
e jogo velhas peles fora.
Velhas bagagens,
velhas poeiras,
que meus cantos ainda sem poesia
calharam de acumular.

Me reservo no direito de
meditar.

Me frustro também,
não se assuste.
Mas até que algo
em mim finalmente
se desajuste,
silencio.

Acredite, quando digo
que podes confiar em teu amigo.
Traço, pois,
um diário
de viagem
[te mostrarei quando voltar.

Até lá,
segura a onda,
não perca o pé.
Que quando for a hora boa,
pegaremos um jacaré.

Um comentário:

  1. que não cale nunca
    esse sempre foi o pretexto
    pré-texto
    envolvido nesse contexto
    que é a poesia que une e separa
    que arranca o toco da cabeça
    que mete bronca e taca fogo
    que permeia
    que permeia
    que INCENDEIA.

    só nunca fui
    nem nunca vou
    o ramo de flor que carrego
    não murcha

    às vezes se esquiva
    brilha em outras terras, mas tranqüilo vou, pois,
    “Tudo que de mim se perde
    acrescenta-se ao que sou.”

    medite
    amigo medite
    e depois me dite
    o cabível nas palavras
    em verso
    e o inefável através
    das ondas marolas tsunamis que teus furacões incrustam
    na sua alma.
    Pode ser pelo corpo
    ou pelo sopro, pelo misterioso ar de amigo que sentado a meu lado
    mesmo estando a milhas distante
    não diz nada.
    cala, silencia.

    e que da palavra seja o dia que virá,
    nesse jacaré sem pé de pé que vamos pegar
    nas ondas do Havaí
    ou num mar inventado por aí
    quem sabe no monte Roraima
    ou em Itajaí.

    quanto a não querer ser reflexo de nada,
    companheiro,
    pense bem nisso.
    temos o mundo à nossa volta e é a ele que prestamos, porque,
    quando acabar esse lance aqui, meu fio...
    tudo para você vai ser questão de tempo, de um fio.
    mas o mundo... ah! o mundo...
    se ao menos fossemos Raimundos, talvez fosse sim uma solução.

    Sidarta e Pema:
    fico feliz por saber de suas presenças
    no peito
    e no segredo

    no meu, não guardo nada
    nem asas nem penas.

    Mas saiba de uma coisa:
    és uma pessoa para a qual eu olho e não consigo ver nada
    além de
    poema.

    esse lance de cantos não vejo
    só posso encantos, sempre só pude.
    talvez por isso seja que meu peito
    clamacantachama
    inevitável tarefa de revolucionário
    que não cansa de trabalhar aqui dentro.

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