os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

domingo, 28 de março de 2010

O centésimo

I

Por longos dias ruminei este poema.
Dias de completa incerteza
Esperando apenas o momento certo de escrevê-lo.
E com que cuidado escrevo cada verso!
Penso em quando as palavras me escapavam pelas mãos.
Rumino.

II

Não sou poeta.
Não existo poeticamente.
Minha grande inquietude sempre cede à minha enorme apatia
E minha única certeza é a improbabilidade.
Duvido.

III

Minha sede repousa num maracujá grande e pesado na fruteira de casa.
Espero.

IV

Penso em todas as estradas que nos unem e nos separam.
Que nos fazem tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes.
Penso na escrita:
É um ensejo melhor acabado que o próprio pensamento.
Penso na estrada:
É a metáfora melhor acabada na escrita.
Quero ser estrada.

V

Nunca me comprometo com nada.
Prevejo que o despertar será tardio e doloroso.
Avistei uma estrela muito peculiar no céu e, ocupado, prometi admirá-la assim que pudesse.
Nunca mais a encontrei.

VI

Escrevo esse poema
Em cima da linha imponderável
Que separa a minha vida
Da vida que me espera.
Difícil saber se a ultrapassarei algum dia
E qual é o sentido norteador de todas as minhas atitudes.
Escrever é sempre um fim e um começo.

Um comentário:

  1. eu penso
    em vocês
    e escrevo:
    a distância
    criamos

    intenção
    ...
    se
    desejamos
    perto
    estamos

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