os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

domingo, 4 de maio de 2014

O ERRO (poema para um objeto inanimado)

nos subterrâneos do cotidiano, algo escuso dava errado.
se esquivava o erro a cada tropeço que pudesse levar a encontrá-lo.
se escondia atrás de seus pares semelhantes, porém nunca iguais.
somente no momento em que despertou sua especifidade no desejo alheio, o erro, transbordou.
e foram tantos sentimentos simultâneos que o erro pareceu semelhante a uma gargalhada.
e o erro ria e ria.
e que erro era!, daqueles grandes que tinham corpo, matéria, som.
aquele erro tinha muita história de acerto.
peso de passado.
aquele erro já tinha sido carregado nas costas, de lado, dentro do carro, sobre a cabeça, na bicicleta.
sua especialidade era ficar no colo, e quando estava no colo, o erro cantava, sempre cantava.
e nunca tinha sido erro.
o erro já tinha viajado, sido emprestado.
baita erro cheio de experiências!, desconfio que ele, inanimado, até tenha amado.
sido amado sim, tinha sido muito amado, por tantos dedos que tangiam com cuidado o agora erro, desaparecido.
o que transformou o algo que era no atual erro errado, sumido, despetalado, sem pernas, apoios, cotovelos, ombros, esqueleto?
o erro foi desaparecer.
mas o que desaparece se encontra.
procuro o erro para dele fazer surgir algo, torto que seja, mesmo que continue errado, mas cheio de vida e presença.

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