os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

terça-feira, 15 de maio de 2012

Carta para Manoel de Barros

Escuto a cor dos peixes.
Essa vegetação de ventos me inclementa.
(Propendo para estúrdio?)
O escuro enfraquece meu olho.
Ó solidão, opulência da alma!
No ermo o silêncio encorpa-se.
A noite me diminui.
Agora biguás prediletam bagres.
Confesso meus bestamentos.
Tenho vanglória de niquices.
.............................
(Dou necedade às palavras?)



- M. de Barros


"Dou necedade às palavras?"

Por dizer de escutar a cor dos peixes, diz-me conseguir captar a vida de suas cores, de seus desenhos brilhantes n'água, e se fazes isso, não importa então qual o sentido - vai além dos olhos a beleza, e em teu caso, chegou aos ouvidos.
Se biguás prediletam bagres, talvez seja por também os escutarem as cores.
Se dás necedade às palavras, não sei, depende. 
Se necedade for despí-las de seus usos robustos e imóveis, que agradam à todos justamente por não dar nada de novo, então sim.
Se necedade for (e talvez seja, meramente, para alguns) empobrecer as palavras, tirar-lhes a força e beleza, então não. Muito pelo contrário.
Dás, num certo sentido, opulência - riqueza, engrandecimento de vida, não frivolidade.
Mais, não sei.
De qualquer maneira, te aplaudo, com meus silêncios.

Um comentário:

  1. ventos soprados no ouvido
    vegetação despegada do acontecimento cru
    algumas sensações estranhas
    algumas crianças
    têm medo do escuro.
    Confesso:
    os escuros descansam meus olhos
    e a noite me engrandece
    no mais te compreendo
    e te aplaudo do alto
    da minha ausência

    ResponderExcluir