os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

apagão

sem luz o instinto grita
aos ninhos os animais retornam
raros são aqueles que saem em busca
do mistério e do silêncio
que a luz oculta

bicho voraz e incompreendido
é esse que em mim habita;
meu corpo busca
nas intempéries imprevisíveis
palavras que revelem sentidos incompreensíveis:
a noite do blackout
se assemelha à treva de meu existir

além da solidão
outro presente nos dá o apagão

o silêncio

bandos de pessoas com medo
cruzam, atravessam meu poema
e sozinho, sem desviar os olhos do papel,
mais os atormento que encanto.

menos luz!
quero menos luz!

caminhar no escuro é uma dádiva
melhor metáfora
fecho os olhos e corro pelas campinas de pedra
me entrego ao tempo mais primata e animalesco
e agora vejo: sou poeta.

sinto o frio da noite infinda
e não tiro a caneta do papel que não vejo
e não me visto, a nudez é parte do ritual

Sinto

Fluo

estou junto com todo o universo
uma galáxia explode
um empresário chora sua desgraça
em casa avós rezam para seus deuses
os ladrões estão à solta
carros explodem uns nos outros
um velho decrépito procura sua dentadura
um bebê japonês em gritos porque o video game não funciona
o último capítulo da novela interrompido
o último capítulo do clássico será lido à luz de velas
no puteiro um porco não encontra a camisinha
o casal tem o maior orgasmo de sua vida
um garoto de 13 anos se atira torre abaixo
uns se refugiam com geradores
outros se embriagam
e eu
na esquina mais absurda de minha vida
escrevo um poema
sem porquê
sem nada
um simples poema sem luz.

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