1 de maio
Caralho,
trampar é mó responsa.
2 de maio
Domingo é sinônimo de acordar com o canto dos passarinhos
e não raramente
com uma companhia
para brincar de ser só corpo.
Por que todo dia não é domingo?
3 de maio
dia de confissões
Tinha esquecido dos poemas matutinos
mas hoje começo mesmo sendo 1 da manhã do dia vindouro.
Hoje descobri que o que mais me cansa em são Paulo
é o tempo despendido dentro do ônibus.
O calor derreteu minhas pálpebras
e dormi com uma poema entre as pernas
como se fosse um travesseiro
como uma coxa de fêmea
e percebi
que viver é bom.
Inevitavelmente bom.
4 de maio
Fica decretado em caráter afirmativo e irrevogável na sociedade di Bruschi que todos os despertadores serão destruídos e que quem for adepto ao uso deste aparato demoníaco será caçado mais ardentemente que ratos leprosos.
5 de maio
Por que a noite é tão mais amiga do meu corpo e poesia que o dia?
6 de maio
Um dia longo
a mim espreita.
Atualmente sou um homem moderno
fadado a viver
como em uma linha de produção.
O problema é que pendo
infinitamente mais
ao naturalismo
que à última geração.
Encho a cara de café
e me preparo para a batalha vindoura
contra mim
até que o sono venha e o dia acabe.
7 de maio
No ônibus
uma garota linda
(agora a mais linda entre as garotas)
se ofereceu para me ajudar
a passar meu violão pela catraca do buzão.
Eu aceitei
e por um momento
todas as catracas
do meu peito
estiveram livres.
8 de maio
tudo está consolidado
de forma tacanha
e mesquinha.
Porque justamente eu
seria de outra forma?
9 de maio
É preciso dar um jeito
não de me encontrar,
mas de encontrar onde eu caiba.
já me cansei de sentir-me preso numa lata
como atum desfiado.
10 de maio
Segunda-feira:
não escapo
de papéis sociais
que me atormentam;
Preciso achar tempo
para fazer minha vida
-sem estar
dominado por um destino.
11 de maio
Nasce criatura
em forma de verso
sem criador.
O espaço é responsável,
o corpo é o meio da tinta sair para o mundo
e encher as cabeças de infinidades.
Poeta sou eu ou a caneta?
12 de maio
Vazantes Enchentes
Baixas Cheias
Inconstante ocorre a vida
Obstante
Como marés
Entre ventos revoltos
Se agitam cabelos soltos
de infinitas cores.
Cheia Nova
Crescente decrescente
Acronológica ocorre a vida
contudo banhada do gosto
da perseverante lógica
das luas
Entre tramas e tranças
rizomas dançam
com mil faces.
Abolido o tempo e sem juízos
todos os olhos dizem:
nesta vida
além lua e mar
amar.
Há que aproveitá-la.
13 de maio
quinta-feira – 11:30 da manhã
Como é bom
chutar
com todas as forças
o pau da barraca
e acordar
tarde pra caralho.
14 de maio
O preço do início das sinceridades
é o fim das esperanças
15 de maio
Sábado passado
não escrevi
nenhum poema
Hoje
vou escrever dois
O primeiro nasce
agora
O segundo vem
depois.
16 de maio
Poema de domingo de virada cultural
Quando o que sucede no corpo
não corresponde
com o que se desejaria que sucedesse
desatam-se nós
e o peito afunda
engolindo o sujeito
no desespero
para dentro de si mesmo
E nesse instante que se desfaz
como um acidente foi-ver-já-sofreu
evidencia-se uma paixão.
Não.
Não há sentidos.
17 de maio
hoje um poema do jony em que tropecei esta tarde.
“a vida,
vôo de dragão vertiginoso.
indeléveis amigos, puras experiências,
chaves de libertação em cada ser que sorri
ante os abismos da vida”
18 de maio
Quero escrever algo cheio de ternura
para uma garota específica,
mas agora não consigo,
fica pra próxima.
19 de maio
Para acordar bem
me aconselharam a
dormir ereto
fazer um chá
tomar remédio.
Tem até aqueles que deixam a televisão ligada pela noite inteira
com medo de si mesmos.
Tem que tenha técnicas lapidadas,
um banho dégradé indo do quente para o gelado
ou uma certa quantidade de água
(com precisão milimétrica)
a se tomar antes de deitar.
Isso para não falar nos despertadores e seus milhões de toques e simuladores,
cada qual com uma finalidade específica.
Mas para mim isso tudo não passa
de conversa fiada
Todo mundo sabe
que acordar bem
se acorda
quando se dorme depois
de uma bela trepada.
20 de maio
Uma nova paixão
é
sempre
um revisitar a instabilidades
e banalidades.
Nunca é mais difícil um telefonema
que quando para chamar
uma garota linda
e cheia de incertezas.
21 de maio
POEMA PARA NINGUÉM
O céu nublado
dá distinção às coisas
Minha cabeça nublada
anula
as contemplações catastróficas
e tudo se descobre
como se não passasse de si;
sem elocubrações.
As cores menos brilhantes
porque a luz é opaca
inexplicavelmente
avivam-se.
As formas tomam contornos
definidos.
Os espaços
que nos separam
tornam-se
absolutamente palpáveis.
Embora as névoas sempre tivessem me remetido ao caos,
massa rude e cinzenta, indistinta,
hoje as vejo percebendo.
Tudo no SEU lugar.
E não há como evitar a tristeza de ver
dois corpos que outrora
eram um
separados
a cada instante que se arrola
desaprendendo a amar:
não chegando a ser dois
mas vindo a ser nenhum.
22 de maio
A serpente é a metáfora da revelação.
Vejo um véu vívido e vacilante
servindo vis desejos
no passado impensados.
Vísceras vazam como cheiros
e voam entre aqueles
que têm olfato atento.
A mulher é a metáfora da revelação.
Troca de pele
como o poeta escreve
um poema para a lua;
mas precisa de um carinho nu
cheio de dedos
calados e calejados
para recordar
que na mais aparente grosseria das couraças descartadas
esconde-se a profundidade mais íntima.
Quando tudo parece pouco
curva-se o mundo a um olhar
que nos faz parecer caber
dentro de nosso corpo.
23 de maio
Hoje eu perguntei para minha irmã de 20 dias de vida
o que ela pensava no mundo dela
tão cheio de linguagem
mas tão distante das nossas linguagens!
E ela me olhou com um olhar
de autoridade e grande sapiência,
explodiu num bocejo que faria até um elefante cair no sono
e voltou ao seu quentinho de meu colo sem perturbações.
Tem gente que sabe aproveitar a vida...
24 de maio
O mês vai chegando ao fim
e junto com ele
esse poeta-personagem
que vesti.
Mesmo que indeterminado,
para tudo na vida há um prazo de validade.
25 de maio
Há aqueles que lançam pedras aos passarinhos não para agredi-los, mas para contemplar o seu vôo.
26 de maio
Minha caneta está chegando ao fim.
Sempre tive dúvidas se quem escreveria era eu ou ela.
Agora é a verdadeira hora da emancipação poética:
sem a caneta terei que escrever versos no dia-a-dia
com meus gestos.
---haverá um dia
em que tudo que eu diga
seja poesia---
Poesia ativa,
nada poderia me potencializar mais prazer.
27 de maio
Quem começa a escrever
já sabendo onde quer levar seu texto
exclui dele toda a potência
que
tanto o nada
quanto o todo
têm a despender.
28 de maio
Filas
Esperas inúteis
Trânsitos
as coisas que mais demoram
na vida
são as menos eternas.
29 de maio
Eu tenho pena daqueles que se orgulham de quase não dormir por tanto terem que fazer e inveja daqueles que por tanto terem que fazer dormem um sono agradável que dispensa comentários e citações.
30 de maio
Quando caí do alto de minha libertariedade
foi que descobri
que com a boca fechada
se diz muito mais.
31 de maio
último dia do mês
último poema do mês
é estranho poder escolher dizer
que tudo só começou
ou,
simplesmente,
que acabou.
depois quero ler os poemas de junho.
ResponderExcluire a pizza, estava boa?
abraços,
josé juva - PE
www.josemenin.blogspot.com