Entramos agora em uma missão secreta.
No meio da faxina, do facebook, da obra, de prefeitura, declarações, certidões, anuências, projetos, cabeça fritando ativamente ininterruptamente, inauguro:
MISSÃO SECRETA
Falei: "poesia"!
Ela, desconfiada, olhou pra mim com cara feia. Com razão.
Então eu falei: "PUESIA!". Com o acento dentro das áspas.
Ela já sorriu discretamente. Também... poderia. Aparentemente abandonada, um blog perdido no mar da internet, dizem nuvens por aí, sei lá que porra é essa, mas é legal que ela guarde essas memórias.
Então eu larguei a furadeira. Estava indo furar a parede, mas preferi inaugurar a missão secreta.
Secreta porque puesia não quer dar as caras.
Secreta porque era como um resgate.
Secreta porque.... bem, não sei o porquê. Mas é secreta e foda-se.
É legal ser secreto.
Descobri que tem puesia que se esconde dentro da agenda do google. Safada. Fica só te bisbilhotando esperando você deixar aquele olhar triste e cansado de lado, louca por um suspiro.
Descobri uma dentro da furadeira. Daí furei a parede e apareceu uma no furo. Coloquei uma bucha ali. Sei que ela está lá. E quando eu for tirar o quadro e antes de tapar o buraco com gesso eu tiro ela de lá.
Secretamente, claro.
Ninguém vai saber da puesia. Olhos cansados não conseguem ver aquela puesia que eu vi hoje dentro da loja de vender quinquilharias de carro. E naquela placa de proibido estacionar, tinha uma abanando o rabo feito louca.
E elas me chamaram para uma missão. E eu vim. Porque pedido de puesia não se recusa. Eu não sou pessoa pra virar as costas pra ela.
Posso estar com os olhos cansados. A cabeça cansada. A alma cansada. Mas puesia é tipo andar de bicicleta. É vacina. É que nem preocupação de adulto. É que nem pensamento de criança.
Tá lá, e de lá não sai.
Por exemplo aquela puesia que eu vi naquela árvore que eu plantei. Ela tava grandona se mostrando pra todo mundo na rua. Algumas pessoas viam sua sombra. Mas só a sombra. E ela nem aí com a falta de confete. Ahh se ela fosse leonina que nem eu, taria sofrendo.
E tem tanta coisa né. Que numa missão secreta a gnt só resvala. Mas tá começada, isso que importa. Porque teve um poeta que me desafiou pessoalmente, apesar de que ele já estava morto, mas sei que ele lançou aquele desafio pra mim. Disse que fazer poesia adolescente era fácil... que queria ver fazer com 40 anos. Bem, tenho 30. E talvez poesia seja realmente dificil de fazer. Já li poetas. Mas já li puetas. E puesia é minha amiga. Tá ali dentro da minha carteira cada vez que eu abro ela pra pagar alguma besteira dessa vida descaminhada. Puesia dá uma risada danada quando bate o vento na bicicleta ou quando a chuva faz cosquinha no pára brisa do carro. Puesia tá sempre viva e se renovando. Parece bananeira de tão tranqueira que é. E essa puesia é nossa. Com U mesmo. Inventada pela cabeça das amizades. Iluminada por mestres pOetas, esses com O. Desnuviadas por professores e colegas. Tem mais gente nesse balaio, mas vou parar por aqui, afinal essa missão é secreta e não dá pra ficar dando as cartas.
No mais, deixa a puesia falar. Deixa ela dizer as bobagens dela. Que dessas bobagens brotam as flores mais lindas que podem nascer do chão. A flor da puesia. Já viu ela? Tá escondida aí, preste atenção, nasce o ano inteiro. É perene. E não tem transposição de puesia como tem de rio. Mesmo porque, se ela trocar de lugar não faz diferença. Se ela trocar de roupas também não. Se ela trocar de casa, de relação, de transporte, de loucura, faz diferença não. Ela se troca troca troca e tá lá, sempre. Sóbria. Desvairada. É noite, sombra sol, lua chuva. Mas é banho de chuva também. Isso tem que fazer. Tomar banho de chuva. Quem sabe agora, ou daqui a pouco.