os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

domingo, 31 de julho de 2011

permitam-me a dor.

todo, o corpo em cacos
despedaçado. vidro de automóvel
que tombado
tombou sem vida o corpo jovem

imóvel todo cheio de estilhaços tudo

não como o silêncio.

muito menos o total, das velas e do branco.

vale a pena o travo triste da vida, que sem escrúpulos de tempo fez-se perder um irmão?
vale.
sempre vale, bradou-me um amigo que a vida tirou por vontade.

não é o caso agora. hoje descubro o que não vale.
não vale o gosto esta fumaça
este cheiro de desgraça e velocidade
gostos embotados cheios de nada
gotas de asco
cidades mais podres que aquelas bananas
velhas bananas da varanda.
indigestas travessias, de pedestres,
esmagadas
por automóveis pilotados por vermes
que esse mundo incerto nos préstimos e certeiro nos empréstimos
insiste em aceitar na direção.

Só um verme pode tirar a vida de alguém.

Permitam-me a lágrima.

Pelo amigo de meus amigos assassinado semana passada.

Permitam-me uma, ao menos uma lágrima.

Molhada, jogada ao vento. UMA LÁGRIMA!
Nesta porra desta cidade suja...
uma lágrima para limpar o sangue
para limpar a tristeza
para limpar o esquecimento
para limpar tudo, menos a consciência.

Lágrima acolhedora, nascida do peito e caída
nos verdugos do quintal. lágrima que quer pousar onde talvez
um passarinho tenha pousado hora atrás
quiça o olhar atento à poesia, ou o suspiro da amante.

só pra ver se de todo esse lixo, dessa favela tecnológica passada, insisto, como as bananas podres,
como os vermes das bananas,
metal podre
esse plástico grotesco
fumaça de isopor queimado à base de querosene
o toque das teclas que esquece o toque no corpo
os números e as codificações que não olham na cara da figura
(porque não tem olhos: tem câmeras)
se do alto dessa ausência de humano...
pra ver... se resta alguma possibilidade de abrir um sorriso e dizer:

caralho, tem saída essa porra desse lugar que vivemos.

Senão, bixo...
eu prefiro engolir minha lágrima e sair daqui.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Comentário para a sugestão (por que simplesmente o meu computador não me deixou comentar direto na postagem)

Gosto da idéia de nos propor um intervalo, uma pausa para ver se recomeçamos, ou se coisas novas inauguramos.




Para mim o blog nunca foi um projeto, algo que deveria ser outro algo, ou que viria a ser outro algo. Para mim, o blog sempre foi uma possibilidade de extensão do que vivemos juntos na Roda Literária e, mais tarde, no MuPeJo. Uma extensão dessa pegada fibra de rolê firmeza, sem ter que ser nada. Claro que dentro disso haviam projetos, como o Into The Wild, ou o dos Dias Escritos, ou o do Centésimo. Mas, a meu ver, eram idéias dentro de uma idéia maior - que era aberta, sem ter que ser nada que não o que somos.

Esse é o meu maior entendimento do blog: ele é o que somos juntos.

Com relação ao projeto de fazer um livro do blog, com a idéia de escrever o Centésimo para celebrar, devo confessar que me intimidei. Não sei explicar o porquê, mas travei, não consegui escrever nada que fosse digno de um evento desses. Acho que ainda pior do que travar (porque todo mundo trava), foi que eu não consegui reconhecer que estava travado, e então escrevi somente coisas ralas, na ânsia de satisfazer as expectativas minhas e de vocês. Expectativas que talvez nem existissem de verdade em vocês, mas que eu acabava alimentando em mim e me cobrando em cima delas. Talvez seja tudo uma questão de orgulho. Não sei. Mas acabou que o livro do blog engavetou-se, e foi ficando tudo silencioso. Não sei se falo só por mim, no final das contas, mas acho que pecamos em não conseguir jogar um pouco mais aberto, e se haviam de fato expectativas e cobranças, escancará-las, para poder trabalhá-las entre nós, numa boa. Como os amigos que sempre fomos.

Eu me lembro de quando começamos o blog e o Muma simplesmente sumiu do mapa. Não deu nem um recadinho pra nós falando que não queria participar. Isso foi foda, e ele vacilou mesmo. Mas nós também colhemos o que plantamos com uma espécie de empolgação pouco acolhedora, que não parou pra pensar que se pá o Muma podia não querer participar do rolê - o que é um direito dele. Esse tipo de coisa gera umas mágoas fodidas, por não se propôr esclarecer as coisas de alguma forma.

Não sei mais o que escrever, mas enfim... É nóis. Foi tudo minha opinião, e vamos falando, vamos nos falando. O que temos juntos já estabelecido é muito precioso para deixar virar uma louça suja ou uma planta seca - com isso eu concordo e muito. Não vamos deixar a casa feder além do necesário para chamar a atenção de todos para a limpeza. Para tanto, vamos falando, vamos falando...

Abraço!

Jony.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sugestão

Outro dia encontrei um projeto de livro.

Guardado bem dentro do meu HD.

Pra começar uma resposta, tenho uma sugestão:

Não gosto de ter janelas entreabertas na vida. Ou então janelas com mil possibilidades não aproveitadas. Prefiro aceitar e fechá-las, para poder arejar minha cabeça que sempre precisa ver as coisas nos seus lugares, espécie de feng-shui mental. Não gosto de louça suja, de casa desarrumada, jardim com plantas secas... não gosto de ter um blog sem tê-lo.

Prefiro que fechemos o blog para que possamos ver outras possibilidades. Quem sabe levamos a cabo o projeto de livro um dia, ele está muito belo. Quem sabe reabrimos o blog um dia, ele está muito belo. Quem sabe nos reunimos numa noite cheia de velas e lemos tudo um dia, seria muito belo. Quem sabe abrimos outro canal de conexão, ele seria muito belo.

Eu tenho confiança nisso.

Mas não confio num projeto (sempre também assim vi o ventogeral) no qual ninguém se debruça sobre ele.

Sugiro o fim do falsas distâncias.

Gostaria de ler opiniões.




"Quando o sol bate na cara e ofusca
é difícil saber se vemos menos ou mais.
Se for quentinho já está valendo."