os momentos despendidos aqui são de reconciliação com a vida

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

neste mês de recorde de postagens, uma homenagem aos camaradas blogueiros (e a tantas outras pessoas escondidas nos mais longínquos cantos da memória)

A BASE DE TODA METAFÍSICA

E agora, cavalheiros, eu lhes deixo
uma palavra
para ficar nas mentes de vocês
e nas suas memórias
como princípio e também como fim
de toda metafísica.

(Tal qual o professor aos estudantes
ao encerrar o seu curso repleto.)

Tendo estudado antigos e modernos,
sistemas dos gregos e dos germânicos,
tendo estudado e situado Kant,
Fichte, Schelling e hegel,
situado a doutrina de Platão,
e Sócrates superior a Platão,
e outros ainda superiores a Sócrates
buscando pesquisar e situar,
tendo estudado bastante o divino Cristo,
eu vejo hoje reminiscências daqueles
sistemas grego e germânico,
deparo todas as filosofias,
templos e dogmas cristãos encontro,
e mesmo sem chegar a Sócrates eu vejo
com absoluta clareza,
e sem chegar até o divino Cristo,
eu vejo
o puro amor do homem por seu camarada,
a atração de um amigo pelo amigo,
de uma mulher pelo marido e vice-versa
quando bem conjugados,
de filhos pelos pais, de uma cidade
por outra, de uma terra
por outra.

Walt Whitman - Folhas das folhas de relva

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

fogo

canções de noite invadem meu poema.

a casa é instável e apesar da ventania não desaba.

a casa é instável e apesar da ventania não desaba.

sábado, 26 de setembro de 2009

noite

canções de fogo invadem minha casa.

o ar é instável, ele entra no peito, mas não preenche.

o ar é instável, ele entra no peito, mas não preenche.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

a televisão avisa que todos já foram dormir
e eu estou quase
boa noite tchau obrigada e nossa
vou ao café que esta minha cozinha aguarda pra mim
faço de noite vou fazendo em várias
partes cumplicitárias
a televisão e esse programa avesso mas
vem palavras dele e eu me inundo da noite
as crias já deitaram dormiram não chegou uma
eu aqui eu por ti eu parti
fui ao circo com as menininhas vox e ri inundei-me
um calor combalente
uma noite rápida e de novo ainda nao fui mas vou
agora sim
vou ao café
e queridos
escrevo porque me seduz
hoje estou de um
que nem ontem em tarde nem cesário ota
me vem o sono falta o trampo que olha da mesa
falta paul auster e eu quero hoje ele na cama comigo
hehehe
como quero boa noite tchau e obrigada

O homem, as viagens

O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
palnta bandeirola na lua
Expeimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro - diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto - que é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiã junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Nõ-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.

pôe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.


-Carlos Drummond de Andrade, em "As impurezas do branco"

terça-feira, 15 de setembro de 2009

por diversão

uma música interessante (gostosa eu diria num linguajar mais sedutor)
um banho gostoso (interessante eu diria se mais sedutor)
mas aqui não há sedução, haveria de haver, mas por hora, o que há é tão somente ser.
onde estão as palavras que não são minhas, que escapam à minha pena?
venham, venham! eu vo-las espero! (e isso cria em mim nadas além de saudades)
tudo pode ser substituido por semelhança, mas... e quando não há?
pois tudo está em nós e por vezes temos essa mania de unidade e originalidade...
EU! (gritou uma voz não tão distante e que fez-me rir)
logo eu... fazer o quê? (foda-se que não se acentua mais o o quê...)
há a certeza de que as palavras não se envergonhariam à escrita,
mas me acanha esse estado de estar só acompanhado
(não que isso seja pouco ou muito... não acredito em valor)
de auto acompanhações mútuas que sempre são...
fora isso sempre sobra um gosto de ritual inerente à toda manifestação que envolve essa parada louca que é a poesia e a experiência vivida a falsas distâncias. aqui ou acolá sempre sobra um gosto de nós, isso acalanta e agrada, porque assegura de forma estranha e incerta algo em que também não acredito: eu. ou você, ou a madre teresa de calcutá (não faço a menor idéia de quem seja ela, mas achei engraçado submete-la a esta situação)
agrupo palavras e silabas como se as tivesse numa saca todas recortadas, meu nome é dadádadá, e então não calo, porque esse impulso de teclar no teclado gera sempre força.
não tenha paciência para ler o que escrevo, nada vale seu precioso tempo, vá buscar dinheiro, encha seu ânus de dinheiro e espere que um dia teus filhos tenham alguma oportunidade de fazer algo menos besta que encher o cú de grana (tendo sempre a certeza de que nada há de faltar a eles).
isso não foi um insulto.
te amo,
pedruschi.

poema salva-vidas

quando a noite nasce em um peito cantante
nada pode restar senão o anseio, o devir.
quando um gosto de sol se insiste na noite,
o porvir cheio de calor grava em si o que é.
quando um poeta aterrisa em seu território
e grita em tom baixo tudo aquilo que desconhece,
o nascer de estrelar em horários incertos.
quando um seio de mulher se arrebita,
alva e límpida, nossas palavras vão por água...
abaixo.
porque aqui, neste território, elas já deram por existir.
no entanto, quando os lobos uivam em nossas pernas,
não temos calcanhares de aquiles, somos uma unidade,
voamos por entre as possibilidades e já não distinguimos:
tudo é puro prazer.
eu sou, prazer.
tu és, prazer.
ele é, prazer.
nós somos, prazer.
vós sois, prazer.
eles são, prazer.
então se revela no impulso não contido
os mistérios vastos que linguista nenhum poderia desvendar...
o poder do improviso noturno, do caos compartilhado,
do movimento que não sabe onde tem nascimento:
as nascentes somos escondidas dentre tantas infindezas,
e assim eu sou prazer,
tu és prazer,
ele é prazer,
nós somos prazer,
vós sois prazer,
eles são prazer,
então o gozo que nas palavras não se esconde
e que na conquista de olhares se evidencia
sem no entanto garantir que se concretize,
aqui brilha e proclama que o ser, no mundo, no cotidiano,
no instante, mesmo sem controle,
tem tesão.
graças ao momento, tudo é incerto,
tudo é caos e, mesmo sem saber do melhor,
da vida, da entrega, do jogar de toalhas, da desistência,
do desapego, do desespero, da inconsciência,
da inconstância, rogo-lhes tão somente algo:
façamos das formas mais bizarras.

Trampolim Atômico

"Trampolim Atômico"

Transpulando no meu trampolim
atômico,
trespasso a nuvem que
me escondia lá em baixo,
transpiro nadando no ar
transparente,
chego atrasado mas cá estou
finalmente para
transar com as estrelas.

Prá segurar na mão distraída
de Deus,
falta pouco.

Novo Canto

Descobri um novo canto
de minha casa.

E a escrita, sempre esquisita,
é uma forma minha
de NÃO ficar sozinho.

Estou com as letras,
com as palavras,
com o movimento.

Comigo:
poesia,
som,
meu pensamento.

Um encontro,
um compromisso comigo
em que eu compareço.

Um instante
do mundo,
e eu aconteço.



Este é um poema dedicado aos meus amigos.
Quem sabe, sabe.
dizer muito obrigado é pouco.
pensei em dizer em japonês,
por me ser uma coisa nova,
intrigante e importante,
mas sei que é pouco.

pois bem, aqui vai um poema
de Mário Quintana.

"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."

Muito Obrigado.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

hoje meu canto no blog é por compromisso

Esta noite
certa embriaguez alheia
invadiu meus territórios.
Vinda por mensagens estranhas,
menos belas que sinais de fumaça,
encheu-me o peito (sempre enche)
de uma alegria escondida,
dessas que não se explicam,
vindouras de tempos outros,
vividas em tempos que insistem, sempre,
a permanecer presentes:
essa minha mania de querer ser eu.
No fim, o que importa é o jogo,
e o nosso permuta entre o gesto, a exploração e as regras,
sem nunca deixar de ser, ainda bem, sensação e corpo.
Corri durante a madrugada à procura (de mim?talvez)
de versos que escancarassem
nessa minha face suja de imcompreensividades
algo que reconhecesse e aceitasse meu convite:
venham palavras, eu as estou esperando, aqui,
só, sem direção, sem prumo, eu e meu cajado,
meu pensamento, meus desvãos, meus precipícios.
Acabei enredando por caminhos partilhados:
eis para vocês um versinho de thiago de mello.
Aqui deixo atestado meu certificado de embriaguez mútua:
hoje não vivi vinho, contudo sempre nos restam caminhos...
poesia ou virtude... ei-nos.

Rumo

"Somente sou quando em verso.

Minhas faces mais diversas
são labirintos antigos
que me confundem e perdem.

Meu pensamento perfura
muros de nada, à procura
do que não fui nem serei.

Ante a carne fêmea e branca
meu corpo se recompõe
ofertando o que não sou.

Meu caminhar e meus gestos
mal e apenas anunciam
minha ainda permanência.

Para chegar até onde
não me presumo, mas sou,
sigo em forma de palavra."

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe... Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma."

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Valor

A totalidade é essencial
à satisfação.

Àquilo que atribuís valor
atribua a certeza da complementariade
com a totalidade da diversidade.

Tudo são quebra-cabeças,
milhões de peças.

Cada qual terá o melhor
dentro daquilo que deseja.

A conquista dos prazeres,
compartilhados,
é sinonimo de....................... .

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Também de improviso

cheiro-verde
plantado colhido
picado
deixa na mão
cheiro-verde.

o nome
sinestésico
faz pensar se
veio antes a cor
ou o cheiro.

pouca diferença
faz.

raras são as
coisas
no mundo
tão idôneas
quanto
cheiro-verde.

domingo, 6 de setembro de 2009

improviso antes de dormir

a pipa pousada


asdrúbal tinha ido brincar com os meninos do bairro
e descobriu que todos não eram eles mais.

as pipas pisadas no chão eram motivo de riso e alegria
mas o garoto não se conformava com pipa perto do chão.

o gôsto estava no gesto, o pouso que a pipa partida
fazia
depois do corte vitorioso.
vento que gira não manda sozinho, alguém tem que ter
na ponta do fio, pra dizer que vai ou não vai
pra cima ou pra trás.

sempre alguém tem que ter
a mais
pra que quem se sabe aqui com a pipa a seus pés
se saiba que pode
voar sem stress
no mar da linguagem, na vida ou na imagem.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

reflexão sobre educação (e tantas outras coisas que me atormentam)

certa hora parei a reflexão e considerei que não poderia ser educador
pois como prerrogativa o educador deveria em si
ter plena felicidade.
no entanto, percebi que por ter compreendido,
mesmo não a tendo, sou capaz e por isso tenho
outras ótimas possibilidades.
mas acabo por achar que preferiria simples felicidade, contudo
não consigo vislumbrar um único feixe de luz
que ajude-me, na névoa caótica
de minha cabeça,
descobrir um nada de felicidade.
não posso estabelecer conexões entre as coisas
e tudo está ligado a tudo.
essa bruma me cega, e nada distinguo.
paisagens, pensamentos, figuras, posturas, objetos, pessoas, cores, sentires, fazeres,
nada é em si, tudo é sombra e não vejo fronteiras
entre bem e mal;
entre sim e não.
não acredito em nada pois nada é:
e penso sobre minhas palavras
e elas tampouco são...
estou grávido do caos
nasce em mim compulsivamente tudo que se anula
e já não sei conceber vida ou morte;
não sei conceber o real e o irreal:
os prazeres morrem logo após o parto.
esqueci-me da existência
e nada sei de absolutamente nada,
tudo é só mente,
mentira.
"O melhor será escolher o caminho de galta, percorrê-lo de novo (inventá-lo à medida que o percorro) e sem perceber, quase insensivelmente, ir até o fim - sem me preocupar em saber o que quer dizer 'ir até o fim', nem o que eu quis dizer ao escrever essa frase. Quando caminhava pela vereda de Galta, já longe da estrada, passada a região das bânias e dos charcos de águas paradas, e ultrapassando o Pórtico em ruínas, entrando na pequena praça de casas desmoronadas, precisamente no começo da minha longa caminhada, não sabia aonde ia nem me preocupava em sabê-lo. Não me fazia perguntas: caminhava, apenas caminhava sem rumo certo. Ia ao encontro... ao encontro de quê? Até então não sabia e nem o sei agora. Talvez por isso escrevi 'ir até o fim': para sabê-lo, para saber o que há atrás do fim. Uma armadilha verbal: depois do fim não há nada, pois, se algo houvesse, o fim não seria fim. E no entanto, sempre caminhamos ao encontro de..."